Comemoração da Independência da Polônia em Curitiba (11.11.2012)


 

 

Após alguns dias de chuvas primaveris torrenciais, o Céu preparou para a nossa comunidade polônica curitibana um agradável presente. No dia 11 de novembro de 2012, na manhã do domingo, surgiu o sol, introduzindo em Curitiba e em nossos corações um motivo especial de alegria. Nesse ensolarado dia de domingo, realizam-se as solenidades por ocasião dos 94 anos da Independência da Polônia. O Cônsul-Geral da Polônia, Sr. Marek Makowski convidou a comunidade polônica e os brasileiros − amigos da Polônia para uma solene missa de ação de graças pela Pátria livre e independente! Entre os representantes da sociedade polônica encontram-se presentes membros do corpo consular, bem como amigos brasileiros − tendo à frente o Sr. Orlando Pessuti − ex-governador do Paraná!

 

A solene Eucaristia foi celebrada pelo reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil, Pe. Zdzislaw Malczewski SChr, na igreja polonesa de S. Estanislau Bispo e Mártir em Curitiba (Rua Emiliano Perneta, 463). Foram concelebrantes o Pe. Lourenço Biernaski CM e o pároco local, Pe. Mário José Steffen SVD. O altar-mor estava belamente ornamentado com flores brancas e vermelhas.

 

A Eucaristia inicia-se com uma procissão até o altar com as bandeiras da Polônia e do Brasil. Jovens polônicos do conjunto folclórico Wisła, festivamente vestidos com coloridos trajes populares poloneses, conduzem com dignidade em procissão os nossos tão amados e respeitados símbolos nacionais. Diante do altar da Rainha da Polônia e dos Poloneses no Exterior − d’Aquela que da colina de Monte Claro reina sobre Seus filhos na Polônia e dispersos pelo mundo − com respeito e amor os jovens inclinam as suas cabeças juntamente com os nossos estandartes nacionais. O Coral João Paulo II acompanha a nossa procissão entoando um cântico que eleva os nossos corações e o nosso espírito ao Senhor dos Séculos, num sincero e profundo agradecimento pela Pátria livre e independente! As bandeiras dos nossos países amigos são colocadas ao lado do altar. O coral inicia o cântico do hino nacional polonês, ao qual se juntam com voz sonora e com alegria no coração os poloneses presentes no santuário e os descendentes dos nossos valorosos colonos. Após o cântico do hino polonês, o coral entoa o rítmico e melódico hino do Brasil. No seu cântico envolvem-se os nossos amigos brasileiros, juntamente com a numerosa comunidade polônica presente. Um momento de comovente emoção, quando nós poloneses e descendentes de Piast, há gerações residentes em Curitiba, com o coração repleto de alegria e emoção cantamos os dois hinos nacionais. Para mim − emigrante polonês por escolha da vontade e anseio do coração − trata-se de um sinal eloquente e muito significativo. Cantando os hinos da Polônia e do Brasil, expressamos o amor a duas Pátrias: à Polônia e ao Brasil. Para uns, a primeira é a Pátria de nascimento, da moldagem espiritual e patriótica, da educação e por algum período da permanência na comunidade nacional, lá nas margens do Vístula. Para outros, e aqui tenho em mente as pessoas de origem polonesa nascidas no Brasil − nesse país tão hospitaleiro, testado na sincera e histórica amizade para conosco − o cântico do hino polonês com certeza renovou e aprofundou em seus corações aquilo que existe de mais nobre, e que num testamento específico lhes foi transmitido pelos pais. O cântico do hino brasileiro, para os cidadãos do Brasil, é com certeza uma forma de exteriorizar o seu patriotismo e amor para com este país, que não passou por tantas provações históricas como o nosso país. Para os descendentes de Piast aqui nascidos, o cântico do hino desse país é igualmente uma manifestação do seu amor para com ele e do vínculo com todos os seus cidadãos, que pela sua origem étnica representam aqui propriamente todas as nações do mundo... Para nós poloneses, nascidos no País das margens do Vístula, que vivem e que trabalham no Brasil, o cântico do hino nacional brasileiro também exterioriza algum tipo de sinal característico e ao mesmo tempo simbólico da nossa integração com esta terra repleta de beleza e riqueza e com os seus simpáticos habitantes.

 

A santa missa é celebrada principalmente em língua polonesa. No entanto, em razão de participarem da solene Eucaristia pessoas que não conhecem a nossa fala (sejam os nossos amigos brasileiros, os representantes do corpo diplomático ou ainda pessoas de origem polonesa aqui nascidas já em sucessivas gerações emigratórias), algumas partes suas são expressas em português. O Coral João Paulo II executou todos os cânticos poloneses. A Palavra Divina foi proclamada alternadamente nas duas línguas. A reflexão religioso-patriótica, por sua vez, foi por mim pronunciada na fala local. Nessa reflexão enfatizei o valor e o significado de duas instituições, que durante o doloroso período das partilhas da nossa Pátria foram capazes de preservar o polonismo e, juntamente com ele, os nossos valores nacionais e patrióticos. Foi justamente graças à família e à Igreja que a nossa Nação sobreviveu ao mais difícil período da sua história. Expressei também a nossa gratidão, o respeito diante do Brasil e dos seus mais nobres filhos que demonstraram à Polônia o apoio e a amizade no período da sombria e longa noite das partilhas. Uma das personalidades mais engajadas aqui no Brasil, bem como na arena internacional, a exigir a liberdade e a independência da Polônia foi Rui Barbosa. Esse nobre filho da nação brasileira, jurista, político, diplomata, muitas vezes − nos seus pronunciamentos públicos no Rio de Janeiro e em Petrópolis − reivindicou a independência para a Polônia. Durante a conferência internacional da Paz em Haia, em 1907, ele levantou a sua voz em prol de uma Polônia livre e independente. Rui Barbosa é o patrono de um Liceu de Educação Geral em Varsóvia. Esse é um dos sinais exteriores concretos de gratidão dos poloneses diante desse grande brasileiro.

 

Não podemos esquecer muitos escritores e poetas brasileiros que no período da escura noite das partilhas expressaram a sua simpatia diante da Polônia escravizada. Nilo Peçanha, como ministro das relações exteriores do Brasil, desempenhou um importante papel nos contatos diplomáticos em favor de uma Polônia livre. Foi justamente através dele que, no dia 17 de agosto de 1917, o presidente do Brasil Venceslau Brás expressou a sua solidariedade na busca do reconhecimento da independência polonesa. O presidente enfatizava que, após tantos sofrimentos impostos à Polônia por potências estrangeiras, após o derramamento de tanto sangue na defesa da independência de outras nações, ninguém tinha o direito de negar que os poloneses possuíssem a sua própria pátria.

 

Contata-se que do lado brasileiro tivemos muitos sinceros e devotados amigos e defensores da nossa independência. Igualmente é um fato que na então capital do país, no Rio de Janeiro, os representantes do mundo da política brasileira demonstravam muita simpatia e respeito ao marechal Józef Piłsudski. Vale a pena lembrar o presidente Getúlio Vargas, que, ao organizar o Estado Novo em 1937, proclamou uma nova constituição autoritária, que se inspirou na constituição polonesa do marechal Józef Piłsudski. Embora essa constituição do Brasil tivesse recebido a denominação pejorativa de “Carta Polaca”, para nós, poloneses, isso expressa um significado simpático.

 

Convinha também lembrar as manifestações da unidade, do amor da parte dos brasileiros de origem polonesa ao país dos seus antepassados. Citei uma representante da comunidade polônica, residente em Santana, perto de Cruz Machado, no Paraná, que nos anos 80 do século passado escrevia dos vínculos com a Polônia em sua poesia intitulada “Não nos esqueceremos da nossa Pátria”.  Os descendentes dos colonos poloneses não se podem esquecer dos seus irmãos que vivem além do oceano, na velha Pátria, porquanto é dali que provêm as suas raízes. A poetisa escreve da necessidade de pagar uma dívida de gratidão. Gratidão por quê? Afinal todo polonês, independentemente do lugar do seu nascimento, “recebeu nos genes”, dos seus antepassados, toda uma riqueza de cultura, fé, tradição. Não é possível libertar-se com facilidade de tudo que é característico de todos aqueles descendentes do tronco de Piast. Como comunidade polônica, temos muitas razões de orgulho da nossa origem polonesa. Poucos têm sido os acontecimentos, nos nossos mais de mil anos de história, dos quais possamos nos envergonhar. Muito pelo contrário: os acontecimentos, as pessoas, os lugares relacionados com os nossos irmãos devem ser para nós motivo de especial orgulho! Como poloneses e descendentes dos colonos poloneses, rezamos pela Polônia, mas também pelo Brasil, porque diante dele temos também uma dívida de gratidão! Uma dívida histórica, mas também atual! Que sobre os nossos dois países amigos desça a bênção divina e a proteção da Madona Negra, que tem o Seu santuário em Jasna Góra e em Aparecida.

 

No final da solene Eucaristia, o Sr. Cônsul-Geral Marek Makowski dirigiu a sua palavra aos presentes e entregou altas distinções polonesas a representantes da coletividade polônica: aos senhores Marcos Domakoski e Sergiusz Sikorski, que expressaram o seu agradecimento e a sua cordial gratidão. Após a bênção, o Coral João Paulo II entoou o tradicional cântico “Deus, que a Polônia...”.

 

Logo após a missa, todos os participantes dirigiram-se ao salão paroquial, onde participaram de um coquetel oferecido pelo Consulado-Geral. Foi uma ocasião para o reencontro de velhos conhecidos e amigos. Da mesma forma que em outras ocasiões desse tipo, nas conversas entrecruzavam-se não apenas manifestações de profunda amizade, de longos anos de conhecimento, mas também ressoavam alternadamente a língua polonesa e a portuguesa. As agradáveis conversas e as lembranças sentimentais prolongaram-se por longo tempo...  

 

Zdzislaw MALCZEWSKI SChr

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