A divulgação da Polônia e da cultura polonesa no Brasil através de publicações em língua portuguesa


 

 

 

Introdução

 

Desde que os poloneses se estabeleceram no Brasil como colonos imigrantes, a partir de meados do século XIX, já vai se completando a 14ª década, isto é, vamos caminhando para o fechamento de um século e meio de sua presença maciça no País. Neste vasto país sul-americano, além de se preocuparem com o desenvolvimento da sua vida material, no que de modo geral foram bem-sucedidos, eles não descuidaram de organizar-se socialmente a fim de preservar aqui os valores da sua nacionalidade.

 

Assim, para garantir a educação de seus filhos, que na época o Estado brasileiro não tinha condições de oferecer, preocuparam-se em organizar uma rede de escolas, em forma de sociedades, cujo florescimento maior ocorreu nas décadas de vinte e trinta do século passado. Esse empreendimento sofreu uma brusca interrupção no final da década de trinta, com a política de nacionalização de Getúlio Vargas.

 

Paralelamente, a partir de 1892, os poloneses desenvolveram no Brasil uma imprensa em sua língua pátria. Ao lado de publicações que tiveram vida efêmera, houve algumas que subsistiram por dezenas de anos, como os jornais Gazeta Polska w Brazylii (1892-1941), o Polak w Brazylii (1905-1920) ou o Lud (1920-1940 e 1947-1999).

 

Na medida em que os imigrantes e seus descendentes se integravam na sociedade brasileira, iam surgindo também publicações em língua portuguesa, em algumas das quais começou a estabelecer-se uma interessante simbiose entre os poloneses e os brasileiros que por alguma razão demonstravam interesse pela Polônia e pela sua cultura.

 

É a esse aspecto que pretendemos dedicar atenção no presente artigo.

 

 

A Polônia, seus problemas e sua cultura em língua portuguesa

 

Já nas primeiras décadas da colonização polonesa no Brasil observa-se o surgimento de publicações em língua portuguesa que dedicavam atenção aos assuntos poloneses.

 

Assim, em 1908 surge em São Paulo a publicação mensal O imigrante, que em língua portuguesa informava os leitores de São Paulo sobre as ondas imigratórias vindas da Europa, sobre o trabalho dos agentes emigratórios e trazia notícias amplas sobre a Polônia.

 

Em 1918, por ocasião da independência da Polônia, foi publicado no Rio de Janeiro um número especial intitulado Polônia, com o subtítulo Revista Comemorativa do Reconhecimento da Independência da Polônia pelo Governo da República dos Estados Unidos do Brasil. Publicada em novembro de 1918, a revista apresenta ilustres figuras da vida nacional brasileira que contribuíram para o restabelecimento da Polônia, bem como personalidades polonesas (como por exemplo a família Przewodowski).

 

Nos anos 1921-1923 e 1932-1937 circulou a revista Brasil-Polônia, editada no Rio de Janeiro. Era uma revista ilustrada e tinha por finalidade tornar conhecida a Polônia e seus problemas. Tinha como diretor o sr. Leôncio Correia e contava em sua comissão editorial com eminentes nomes da intelectualidade brasileira da época.   Abordava questões econômicas e políticas relacionadas com a Polônia, que após a I Guerra Mundial havia ressurgido no mapa da Europa como um país independente. Divulgava a literatura polonesa e incentiva promoções como a ereção de um monumento comemorativo por ocasião do Centenário da Independência do Brasil, oferecido ao Brasil “pelos imigrantes poloneses”. Tal monumento concretizou-se na estátua do Semeador, numa das praças de Curitiba. A revista deixou de circular com a nacionalização.

 

Nos anos 1925-1926 circulou a publicação mensal Eco da Polônia, que tinha por objetivo divulgar a arte, a ciência, a literatura, a história, a língua e a vida social da Polônia na América Latina. A redação encontrava-se em Curitiba, e os artigos eram publicados em português e espanhol.

 

Houve também algumas publicações de entidades específicas, como o Boletim Semanal da Câmara de Comércio Polono-Brasileira (1937-1939), editado no Rio de Janeiro.

 

Durante a II Guerra Mundial, algumas publicações em língua portuguesa tinham por finalidade a coordenação da ajuda às vítimas da guerra na Polônia. Entre estas, podemos citar: o Boletim Informativo das Atividades do Comitê Brasileiro de Socorro às Vítimas de Guerra na Polônia, Porto Alegre, 1939-1940; o Boletim do Comitê Central de Socorro às Vítimas de Guerra na Polônia, Rio de Janeiro, publicação anual, 1939-1945; o Boletim do Subcomitê de Socorro às Vítimas de Guerra na Polônia, Filial do Paraná, com sede em Curitiba, 1939-1946; o Boletim do Comitê de Socorro às Vítimas de Guerra na Polônia, publicado em São Paulo nos anos 1939-1945.

 

No final do período da Segunda Guerra (1944-1945) publicava-se no Rio de Janeiro o Pensamento da Polônia Católica, como suplemento da revista A Ordem, sob a orientação do padre jesuíta prof. dr. Paulo Siwek e do dr. Jorge Zbrozek.

 

Nesse mesmo período (1944-1945), como suplementos da revista Vida, editada no Rio de Janeiro, publicaram-se alguns números em português sobre problemas poloneses.

 

No período posterior à II Guerra Mundial, publicações em português sobre assuntos poloneses começam a salientar-se por ocasião das comemorações do Milênio da Polônia Cristã (1966). Assim, a Superintendência do Milênio Cristã da Polônia (SUPOL) fez circular um boletim informativo – SUPOL informa – sobre as atividades da instituição. O boletim, coordenado pelo prof. Francisco Dranka, teve em Curitiba 8 números publicados, tendo um deles chegado a 10 mil exemplares.

 

A SUPOL promoveu uma série de comemorações e festejos para marcar o Milênio da Polônia Cristã. No entanto, nenhuma da suas iniciativas se iguala em importância ao plano da publicação dos Anais da Comunidade Brasileiro-Polonesa, que tinha como objetivo básico oferecer aos estudiosos da imigração polonesa no Brasil textos e documentos originalmente escritos em polonês e traduzidos para o português, além de trabalhos originais de autoria de pesquisadores da problemática da imigração polonesa no Brasil.

 

A publicação não tinha nenhuma periodicidade definida, em razão dos problemas financeiros, cuja solução nem sempre podia ser programada com antecedência. Nessas condições, entre 1970 e 1984 foram publicados 9 volumes. Durante o período da publicação da revista, fizeram parte da sua Comissão Editorial: Francisco Dranka, Arlindo Milton Druszcz, Vicente Flenik, Waldemiro Gremski, Marian Hessel, Mariano Kawka, José Knapik, Jan Krawczyk, Pawel Nikodem, Anísio Okeksy, Rízio Wachowicz, Roman Wachowicz, Ruy C. Wachowicz, Zdzislaw Zawadzki.

 

Os Anais marcaram época na história cultural da colônia polonesa no Brasil. A publicação talvez tivesse tido uma vida mais longa se não fosse o desaparecimento prematuro do prof. Francisco Dranka, em 1982, que significou uma lacuna sensível para a colônia polonesa, especialmente no campo social e intelectual.

 

Alguns anos se passaram sem que houvesse no Brasil uma publicação que abordasse a questão da Polônia e do polonismo, ou que oferecesse aos estudiosos dos problemas polono-brasileiros um órgão onde eles pudessem expor os resultados das suas observações ou das suas pesquisas.

 

Mas a semente lançada por outras publicações, que na sua época cumpriram o papel que lhes cabia, não podia deixar de produzir os seus frutos também nos nossos dias. Assim, em 1999 surgiu a idéia da publicação da revista Projeções – Revista de Estudos Polono-Brasileiros. O projeto pôde ser concretizado graças à cooperação entre a Representação Central da Comunidade Brasileiro-Polonesa no Brasil (BRASPOL), a Congregação da Sociedade de Cristo – Província Sul-Americana e o Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Varsóvia (CESLA). A revista tem um Conselho Consultivo composto por professores de universidades brasileiras e polonesas e membros de instituições diversas. O seu Conselho Editorial é coordenado pelo pe. dr. Zdzislaw Malczewski SChr.

 

Até o momento (segundo semestre de 2007), foram publicados 16 números da revista. A continuidade da publicação só se tornou possível graças ao apoio financeiro de instituições como a Wspólnota Polska, dos Consulados da Polônia no Brasil, da Embaixada da Polônia em Brasília, do CESLA da Universidade de Varsóvia, de outras instituições e paróquias, além de pessoas particulares.

 

Para completar o panorama das publicações polônicas em português que no momento atuam no Brasil, não podemos deixar de citar duas delas, que se inserem nas atividades culturais promovidas pela BRASPOL. Desde 1993 circula o Kurier – Informativo da Comunidade Brasileiro-Polonesa – BRASPOL, que em fevereiro de 2007 publicou o seu número 14. E no Rio Grande do Sul, a mesma BRASPOL, sob a coordenação de André Hamerski, publica desde outubro de 1997 o seu boletim intitulado Kurierek, que no primeiro semestre deste ano (junho de 2007) chegou ao seu número 117. A BRASPOL, que atua desde 1990 e tem hoje 333 núcleos espalhados por 16 Estados da Federação Brasileira, utiliza esses órgãos como meios de divulgação e de registro das suas atividades.

 

 

Conclusão

 

Os poloneses desenvolveram no Brasil uma pujante imprensa em sua língua pátria. No entanto a colonização polonesa neste país, como um empreendimento que deu margem ao deslocamento de grandes massas populacionais, praticamente se encerrou com a vinda das últimas levas de imigrantes poloneses após o término da II Guerra Mundial. Depois disso não houve o afluxo de novos imigrantes que contribuísse para a preservação dos traços étnicos ou para a manutenção da língua polonesa no Brasil num nível de uso diário. Ocorreu uma progressiva assimilação, e o que se observa hoje são pessoas bilíngües (mas que certas vezes não se sentem à vontade na utilização da língua polonesa), ou que só conhecem alguns rudimentos da língua polonesa.

 

Observa-se, no entanto, um despertar da consciência étnica e uma nova busca dos valores que o país dos antepassados pode oferecer, incluindo a língua e outros valores culturais, tanto em razão da sua trajetória histórica como em razão do papel cada vez mais significativo que a Polônia passa a desempenhar em diversas áreas da vida humana no cenário mundial. Essa busca certamente foi estimulada e intensificou-se com alguns acontecimentos históricos recentes que contribuíram para aplainar esse caminho.Entre esses acontecimentos, ocupam lugar de relevo a eleição de um papa polonês que dirigiu a Igreja durante um quarto de século e a recente volta da Polônia à família dos países plenamente democráticos.

I

sso tem estimulado o interesse pela língua polonesa, pela história e cultura polonesa. Com isso, a distância que separava os dois países parece ter diminuído, e os contatos têm-se multiplicado, inclusive na área do turismo.

 

Contudo o interesse pela Polônia e pelos assuntos com ela relacionados não se restringe aos poloneses aqui residentes e aos seus descendentes, mas facilmente pode ser observado em ambientes que não são propriamente os polônicos.

 

Nesse contexto, publicações em português que abordem a temática polonesa e polônica são e serão certamente bem-vindas no Brasil. É preciso que elas sejam estimuladas, também da parte da Polônia e dos seus governantes, para que esses valores da cultura polonesa sejam preservados e multiplicados como uma valiosa herança cultural dentro dessa nova e promissora realidade que hoje os nossos países vivenciam.

 

Mariano KAWKA

 

 

BIBLIOGRAFIA    

 

KAWKA, Mariano. Atividade cultural dos poloneses no Brasil.Projeções – Revista

     de estudos polono-brasileiros. Curitiba: vol. 7, 2002.

MIODUNKA, Władysław. Bilingwizm polsko-portugalski w Brazylii. Kraków: 

     Universitas, 2003.

PITOń, Jan ks. Polska prasa w Brazylii 1892-1970. In: Emigracja polska w Brazy

     lii – 100 lat osadnictwa. Warszawa: Ludowa Spółdzielnia Wydawnicza,

     1971.

______. Periódicos de língua polonesa no Brasil. Anais da Comunidade Brasileiro

     - Polonesa. Curitiba: vol. III, 1971.           

 

 

 

 

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