Eu fiquei sabendo da existência da colônia polonesa em Águia Branca, no Estado do Espírito Santo, durante os meus estudos seminarísticos na Sociedade de Cristo para os Poloneses Emigrados em Poznan. Considero como um privilégio e ao mesmo tempo uma grande felicidade o fato de que naquele tempo de formação, no noviciado e no seminário, encontrava-se conosco regularmente o pe. Inácio Posadzy, cofundador da nossa congregação religiosa. Nas suas conferências ele lembrava a sua estada no Brasil em 1929 e 1930/1931. Um fruto das suas viagens ao Brasil e das visitas pastorais por ele realizadas nas colônias polonesas é o livro Na trilha dos peregrinos1.
Neste ponto vale a pena assinalar que o grupo imigratório polonês em Águia Branca tem sido tema de diversas publicações2.
Justamente durante essas conferências o pe. Posadzy lembrava – com a veia poética e a fascinação que lhe eram próprias – os imigrantes poloneses que colonizaram a região de Águia Branca e que ele havia visitado na época que eles se estabeleciam em sua nova pátria. Ele fez das várias semanas da sua permanência entre os imigrantes em Águia Branca uma descrição bastante ampla, dedicando-lhe 24 páginas do seu livro. A leitura do seu livro serviu para aprofundar as informações verbais que no início da minha formação me havia transmitido o pe. Inácio.
Quando já me encontrava aqui no Brasil, muitas vezes ouvia falar dos heroicos poloneses que em condições difíceis iniciaram a sua epopeia na colônia Águia Branca, no Estado do Espírito Santo. Infelizmente, por diversas razões eu não pude conhecer pessoalmente essa coletividade polônica localizada a uma considerável distância dos núcleos polônicos situados na parte meridional do Brasil. Somente quando assumi a função de provincial da congregação é que decidi visitar essa região, colonizada a partir de 1929 pelos poloneses. O resultado das minhas visitas e estadas em Águia Branca foram vários artigos informativos e reportagens que foram publicados em diversos periódicos poloneses, bem como em um dos meus livros3.
Há três anos (18 de fevereiro de 2006) tive a possibilidade de participar da inauguração da Casa Polonesa em Águia Branca. Numa reportagem a respeito dessa festividade, escrevei naquela ocasião:
Quando visito Águia Branca, sempre me sinto fascinado... pela beleza da paisagem. No entanto a história, o mosaico e a vitalidade dessa coletividade polônica específica de Águia Branca são ainda mais fascinantes. Os imigrantes poloneses que colonizaram Águia Branca estiveram muito afastados de outros núcleos poloneses. Nessas condições, estiveram expostos a uma assimilação mais rápida que a dos seus compatriotas estabelecidos no Sul do Brasil. Através dos matrimônios contraídos, os poloneses e seus descendentes ingressavam em novas constelações étnicas. Foi assim que se moldou o belísssimo mosaico da comunidade polônica em Águia Branca. Os laços matrimoniais polono-brasileiros, polono-africanos e polono-indígenas deram origem a um novo tipo de brasileiro que se identifica com suas raízes polonesas. Foi bom que essa coletividade polônica tão diversa, mas ao mesmo tempo culturalmente mais rica, tenha contado com a resposta positiva da Associação Wspólnota Polska, que em nome da Nação Polonesa presenteou-a com a bela e funcional Casa Polonesa. Essa Casa será com certeza uma casa verdadeiramente aberta a todos a quem são caros os valores da herança polonesa e que em Águia Branca fincaram raízes profundas. Oxalá pelo tempo mais longo possível... Para o bem da simbiose cultural polonesa e brasileira4.
No entanto a realidade da coletividade polônica de Águia Branca, que eu havia observado e percebido durante as minhas diversas estadas, ainda não estava completa. Não me trazia a satisfação completa de um conhecimento seu mais exato. Por isso, em razão do meu interesse por essa comunidade polônica espécífica eu desejava ter um conhecimento mais profundo da sua realidade, ou seja, descobrir até que ponto preservou-se ainda a identidade polonesa entre os membros desse grupo étnico. Com esse objetivo preparei uma enquete especial, que foi promovida entre os descendentes dos imigrantes poloneses de Águia Branca no final de 20085.
Espero que a sistematização das respostas recebidas nos mostre essa coletividade polônica a partir do seu interior, isto é, da forma como ela mesma se percebe através do olhar de alguns dos seus membros.
- À primeira pergunta, se o pesquisado possui raízes polonesas, a grande maioria respondeu: sim. Alguns ainda acrescentaram quem veio da Polônia (os pais, os avós). Uma pessoa assinalou que é polonesa na segunda geração. Houve também uma resposta negativa, em que a pessoa declara que é brasileira, mas que tem ligação com a coletividade polônica através de ligações com o cemitério polonês. Duas pessoas responderam negativamente, mas acrescentando logo que o cônuge é de origem polonesa.
- No caso de resposta positiva, em que o pesquisado afirma que é de descendência polonesa, a pergunta seguinte era: Quem da família era polonês? As respostas foram as seguintes: uma pessoa informa que é polonesa e que veio a Águia Branca com a família (os pais e um irmão) aos dois anos de idade; os pais (13) [alguns forneceram os sobrenomes ou os nomes completos dos pais, ou acrescentaram que os pais vieram quando eram crianças]; os avós (8); (um pesquisado acrescentou ainda que é polonês); os avós da parte do pai (3); os bisavós por parte do pai; o avô, o avô por parte do pai, a mãe (1); o pai (6); (os pesquisados forneceram a complementação: o pai tinha: 3 anos, 5 anos, 7 anos quando veio da Polônia); outros pesquisados falam de pessoas concretas: Pedro e Ana, Joana Ptak, Josefa, Anastácia Shicorski; o marido (3); alguns dos pesquisados não informaram quem da família era polonês.
- Na resposta seguinte os pesquisados fornecem a sua identidade. Eis as respostas dadas:
- sou polonês/polonesa (6), [uma pessoa cujo avô veio da Polônia informa que se considera polonesa];
- sou de origem polonesa (3); uma pessoa completa ainda dizendo que muitas vezes se sente polonesa;
- sou brasileira (2) [uma mulher casou-se com uma pessoa de origem polonesa, a outra se sente ligada através do cemitério polonês];
- sou um brasileiro que possui, entre outras, também a origem polonesa (8);
- sou um brasileiro que possui também outras raízes, mas com orgulho declaro a minha origem polonesa;
- uma pessoa, apesar de informar na enquete que seus pais vieram da Polônia, nada diz a respeito da sua identidade;
- uma outra pessoa informa que é italiana, visto que seus pais são italianos; acrescenta ainda que se considera brasileira (seu marido era de origem polonesa).
- Na formulação da pergunta seguinte, eu estava interessado em saber a respeito das demonstrações de polonismo que se manifestam na vida diária. Os pesquisados podiam escolher: a culinária polonesa, a música polonesa, a religiosidade polonesa, outras manifestações. As respostas foram as seguintes:
- Escolheram a culinária polonesa 15 pessoas; um dos pesquisados acrescenta que gosta de pierogi, de kiełbasa (linguiça);
- Seis dos pesquisados enfatizam que o seu polonismo manifesta-se no gosto pela música polonesa; uma pessoa adiciona a informação de que todos os dias ouve CDs com música polonesa;
- A grande maioria dos pesquisados respondeu que pratica a religiosidade polonesa. Além disso, uma pessoa acrescenta que conhece muitas orações polonesas, que quase todos os dias ouve (de CDs) cânticos religiosos poloneses e que, quando há celebrações polonesas, sempre delas participa. Uma outra pesoa responde que essa manifestação de religiosidade polonesa ocorre especialmente no Dia de Finados. Uma outra diz que expressa a sua religiosidade brasileira, por ser uma viúva brasileira, cujo marido era polonês.
Algumas pessoas assinalam dois elementos. Uma das pessoas mais velhas respondeu que fala 80% em polonês, mas que não sabe escrever e que a sua religiosidade é mista (polono-brasileira).
Além disso, dois dos pesquisados acrescentaram ainda, da sua parte, que uma das manifestações do seu polonismo é o interesse pela cultura polonesa.
Por sua vez um dos pesquisados (29 anos) comenta esse ponto dizendo ter lido certa vez que “duas realidades na manifestação da cultura se preservam: a língua e a culinária. É por isso que as orações polonesas, algumas palavras polonesas que conheço e a culinária polonesa (pierogi, gałąbki, kiełbasa) estão presentes na minha vida diária”.
Por sua vez 8 pessoas responderam que na vida delas não se manifesta nenhum elemento de polonismo.
- A seguir eu queria saber a respeito da consciência existente dentro da comunidade polônica no que diz respeito à colonização polonesa em Águia Branca. Eis algumas respostas apresentadas: “Vieram de uma Europa envolvida pela crise, enganados com a promessa de que encontrariam uma nova terra prometida, o que não aconteceu. Apesar de isolados por uma cadeia de montanhas (Serra dos Aimorés), não desanimaram, mas integraram-se à nova terra sem esquecer da sua pátria. Eles me ensinaram algo importante para a vida”; “Apenas uma minoria permaneceu no lugar, a maioria não conseguiu aclimatizar-se em razão do pouco apoio e do clima e mudou-se [para outras regiões]”; “Graças à colonização polonesa, a nossa cidade recebeu um nome em honra da águia que adorna a bandeira polonesa”; “Trata-se de uma colonização sempre viva, que procura preservar as tradições, apesar dos poucos contatos com a Polônia. Uma parte da coletividade esqueceu-se dos inícios da colonização”; “A colonização tornou-se importante para o desenvolvimento da cultura”; “A colonização polonesa foi muito importante para o desenvolvimento do município” (enfatizam 4 pessoas); “A colonização polonesa foi esquecida e abandonada por muitos anos” (escrevem 3 pessoas). Um outro pesquisado enfatiza que a colonização foi abandonada (isolada) e acrescenta um detalhe bastante familar: “Meus pais sofreram muito, porque faltva ajuda. Mas, apesar de tudo isso, hoje – como descendentes – devemos ser tratados com mais cordialidade”. Outras pessoas assinalam que: “A colonização foi bem organizada”; “A colonização polonesa foi um ponto importante na história de Águia Branca”. Um dos pesquisados descreve as difíceis condições em que se encontraram os imigrantes poloneses que vieram com seus filhos pequenos para essa região do Estado do Espírito Santo e enfatiza: “Graças ao seu trabalho pesado, essas pessoas contribuíram para a construção da nossa cidade de Águia Branca”. Um outro pesquisado (64 anos) lembra também as condições muitos difíceis, principalmente em épocas de chuvas, “quando as águas destruíam as pontes e a comunicação ficava interrompida. As famílias ficavam então sem sal e querosene, utilizado naquela época em que não havia energia elétrica”.
Uma mulher de meia idade descreve os difíceis tempos pioneiros dos imigrantes, que graças ao esforço comum e ao trabalho pesado construíram uma capela de madeira. E quando esta se deteriorou, empreenderam um novo esforço para a construção de uma outra capela, que até hoje serve à coletividade polônica. A pesquisada afirma no final do seu testemunho: “... eles deixaram um exemplo aos seus descendentes através da própria dignidade”.
Uma outra pessoa escreve: “A colonização polonesa está muito presente em nossa vida; afinal, nas nossas veias corre o sangue polonês. É difícil de expressar o nosso sentimento quando nos dirigimos ao cemitério polonês. Toda a nossa história se passa como se fosse num filme. Para nós, poloneses e seus descendentes, que residimos em Águia Branca, bem como para muitas pessoas que sempre participam conosco da celebraçao do Dia de Finados, o ‘cemitério polonês’ (como é chamado), é um lugar santo”.
Há também um outro pronunciamento digno de ser citado: “A colonização polonesa em Águia Branca deixou uma marca na história da cidade e faz parte da nossa vida diária. As tradições, os costumes, os gostos populares, a troca de experiências, tudo isso está presente em nossa história e ainda hoje, após a passagem de várias gerações, é possível perceber, nestes tempos de modernização, que existe algo em nossa vida que recebemos como herança dos nossos antepassados e que expressamos na prática”.
Uma pesquisada (89 anos) afirma que “a colonização polonesa trouxe o desenvolvimento”.
Um dos pesquisados assinala que sabe muito pouco sobre a colonização polonesa, e um outro afirma que prefere não se manifestar a esse respeito.
- Na formulação da pergunta seguinte, eu pretendia descobrir até que ponto os desendentes dos imigrantes poloneses demonstram a necessidade de participar da vida organizacional do seu grupo étnico. Muitos dos pesquisados responderam que fazem parte “da Associação Polonesa em Águia Branca”, a qual também cuida do cemitério polonês que se encontra na cidade (29). Duas pessoas responderam que participam da atividade da Casa Polonesa. No entanto duas pessoas não forneceram nenhuma resposta. Alguns simplesmente afirmaram que não fazem parte de nenhuma organização (8).
Com base nessas respostas à enquete, pode-se concluir que três quartos da coletividade polônica estão envolvidos na vida organizacinal do seu grupo étnico.
- A questão seguinte que eu queria conhecer era se os representantes do grupo étnico polonês participam de festas, de missas festivas ou de outras solenidades. Das respostas obtidas resulta que uma significativa parte dos pesquisados (29) participa desses eventos. Algumas pessoas enfatizaram que participam de todas as solenidades polônicas que são organizadas em Águia Branca.
Outros pesquisados (2) responderam que participam das missas celebradas em polonês. Cinco pessoas afirmaram que participam apenas da celebração do Dia de Finados no cemitério polonês. Uma pessoa (29 anos) observou que são organizadas também celebrações natalinas. Além disso, apresentou – na minha opinião – uma sugestão muito interessante: “Precisaríamos de alguém que conhece a cultura polonesa, para que nos familiarizasse com a história da Polônia. Tenho a impressão de que conhecemos a Polônia de antes de 1929. Na realidade deveria haver uma ligação maior entre a nossa Águia Branca e a Polônia contemporânea”.
Um dos pesquisados acrescenta ainda que está participando da organização das comemorações da colonização polonesa em Águia Branca.
Duas pessoas responderam que não participam de festas ou de outros eventos polônicos (83 anos e 43 anos), e uma das pessoas informa que não participa porque não é convidada.
Com base nas respostas obtidas, pode-se definir a coletividade polônica como ativamente participante nos diversos eventos que são organizados na cidade.
- A seguir, na pesquisa realizada a respeito da atual realidade do grupo étnico polonês em Águia Branca eu queria descobrir até que ponto os seus membros demonstram interesse pela cultura polonesa e se se utilizam da língua polonesa.
Das respostas recebidas, apresenta-se a seguinte imagem: ocorre um relativo interesse pela cultura polonesa. Muitos dos pesquisados enfatizam que conhecem a cultura polonesa, participam de eventos culturais, mas infelizmente não falam em polonês. Uma brasileira afirma que conhece a cultura polonesa porque vive em meio a pessoas de origem polonesa.
No que diz respeito à língua polonesa, algumas pessoas informam que conhecem essa língua, algumas vezes bem, outras vezes um pouco menos. Algumas pessoas, infelizmente, não se utilizam da língua no dia a dia. Duas pessoas responderam que sabem rezar em polonês.
Outras pessoas afirmam abertamente que não conhecem a língua dos seus antepassados, ou que conhecem apenas algumas palavras. No que diz respeito ao curso de língua plonesa atualmente em funcionamento, as pessoas enfatizam que esse curso devia ser dado por alguém que conheça bem a língua polonesa, que esteja bem preparado e que conheça a metodologia do ensino de línguas. Um dos pesquisados observa que tem a curiosidade de conhecer a língua polonesa.
Ao encerrar este ponto, gostaria de enfatizar a importância do surgimento da Casa Polonesa em Águia Branca. Essa Casa deve ser o veículo e a promotora da cultura e da língua polonesa. Em suas dependências devem ser organizados cursos, encontros, apresentações de filmes, para que as pessoas de raízes polonesas, bem como os brasileiros interessados pela riqueza da cultura polonesa possam conhecer – sobretudo – a riqueza da cultura polonesa, bem como a Polônia contemporânea.
- Para os pesquisadores da comunidade polônica no mundo é evidente que a presença e o ministério de um padre polonês dentro de um determinado grupo polônico contribui para a difusão e a preservação da cultura polonesa amplamente entendida. A história dos 80 anos da coletividade polônica em Águia Branca demonstra que apenas no início da colonização, concretamente durante algumas semanas do ano de 1930, o pe. Inácio Posadzy SChr exerceu o ministério pastoral e patriótico entre os seus compatriotas que colonizavam essa região. Mais tarde, no período 1934-1939, os imigrantes poloneses contaram com a assistência pastoral permanente exercida pelo pe. Francisco Sokół. Durante os anos seguintes, a comunidade polônica era apenas esporadicamente visitada por um sacerdote polonês. Somente a partir do dia 26 de outurbro de 2003 é que os sacerdotes da Sociedade de Cristo (cujo cofundador foi o pe. Inácio Posadzy) exercem o ministério pastoral nesta extensa paróquia de S. José6. A partir do momento em que a paróquia foi assumida pelos padres poloneses, a comunidade polônica local tem também assegurada a assistência segundo o espírito da religiosidade polonesa.
Fiz essa introdução um pouco mais longa a fim de fundamentar a questão seguinte abordada na enquete realizada no ano passado. A pergunta dirigida a representantes do grupo étnico polonês em Águia Branca era a seguinte: A presença dos padres poloneses no últimos anos contribuiu para despertar o polonismo, ou na sua opinião essa presença não faz diferença?
De acordo com as respostas recebidas: A presença dos padres poloneses com toda a certeza ajudou muito na preservação do polonismo (43 pronunciamentos). Escreve um dos descendentes: “Foi para nós uma grande alegria a vinda de padres poloneses a Águia Branca. Existe agora uma valorização maior da língua polonesa, da nossa cultura e da nossa religião” (64 anos). E um outro acrescenta: “A vinda dos padres poloneses foi algo significativo para o apoio da comunidade polonesa em Águia Branca, para a salvação da cultura e das tradições polonesas, que estavam começando a desaparecer. Eles ajudaram muito para conseguir a Casa Polonesa” (67 anos). “Os padres não apenas ajudaram, mas sobretudo deram ânimo às pessoas de origem polonesa” (55 anos) e “estão estimulando a preservação dos valores culturais poloneses” (83 anos). Um outro pesquisado enfatiza que “os padres poloneses trouxeram consigo um grande benefício, que permanecerá na história de Águia Branca” (49 anos).
No entanto, como enfatiza um dos pesquisados, “um só padre, para servir a paróquia de Águia Branca e a coletividade polônica torna-se insuficiente. O que tem sido feito é ainda pouco desde o tempo das expectativas dos imigrantes e dos seus descendentes (desde 1929)” (45 anos). Outros pesquisados observam que os padres poloneses devem “tratar os descentes dos imigrantes poloneses com uma cordialidade maior ainda, dedicando-lhes mais tempo” (37 anos e 42 anos). Se acordo com um outro pesquisado, além dos padres deveria haver “mais alguém que se dedicasse à questão da cultura polonesa” (36 anos). Para uma outra pessoa, “o padre polonês é um sinal de polonismo na área de todo o município” (29 anos). Um outro pesquisado enfatiza que “graças aos padres poloneses ocorreu um grande progresso na comunidade polônica. Foi importante a vinda deles e o trabalho deles entre nós. Acredito que, se um dia não os tivermos mais aqui, ficaremos órfãos. A presença deles ajuda-nos na preservação do polonismo de forma muito concreta [...]. Graças à presença deles, ocorreu uma sintonia entre nós e a Polônia” (47 anos).
Duas pessoas enfatizam que a presença dos padres poloneses não apenas ajudou na preservação do polonismo, mas que pode ser percebida uma outra grande diferença (40 anos e 56 anos). Ocorreu também a interessante observação de que “os padres poloneses não são apenas para os poloneses, mas também para as outras raças” (57 anos). Apenas um pesquisado escreve que ele não percebe nenhuma diferença.
- A última questão que abordo na enquete é o desejo de obter uma resposta a respeito de como a construção da Casa Polonesa e o seu funcionamento tem ajudado no desenvolvimento da atividade polônica e na maior valorização das tradições e dos costumes trazidos pelos nossos imigrantes a Águia Branca.
Os pesquisados afirmam com plena convicção que a Casa Polonesa tornou-se um ponto crucial na vida do grupo étnico polonês em Águia Branca. A Casa Polonesa está contribindo para a preservação da história viva da imigração polonesa, que em meio a muitas dificuldades e sofriementos colonizou esta região. Graças à Casa, desenvolveu-se muito a vida cultural em Águia Branca. Alguns dos pesquisados enfatizam, no entanto, que “essa casa deve continuar a ser ‘viva’, para que a nossa história perdure”. O surgimento da Casa Polonesa contribuiu muito para que a comunidade polônica apreciasse melhor as suas tradições, os seus costumes. Algumas pessoas assinalam com orgulho que essa Casa tornou-se um cartão de visita de Águia Branca. A Casa Polonesa enfatiza a colonização polonesa, atrai a atenção da sociedade pela beleza da sua arquitetura e pela sua dinâmica atividade. Desperta também o interesse daqueles que visitam Águia Branca. Graças a ela, cresceu a importância de Águia Branca. Além disso, graças ao Museu do Imigrante, a Casa Polonesa contribui igualmente para um melhor conhecimento da história da colonização polonesa em Águia Branca.
Na sistematização das duas últimas questões, tive uma satisfação pessoal. Porquanto, como diz o meu mestre, o prof. dr. Lech Trzeciakowski, do Instituto de História da Universidade Adam Mickiewicz, de Poznan: “É preciso fazer-se justiça”. E então fazendo-me aqui essa justiça, quero confessar que, quando eu exercia o ministério de superior da Província da Sociedade de Cristo na América do Sul, após familiarizar-me de perto com a situação da paróquia de S. José em Águia Branca, empenhei-me para que a nossa Congregação assumisse a assistência pastoral a essa comunidade de fiéis, tendo também em mente assegurar, da nossa parte, um desvelo especial ao grupo étnico polonês nesta região do Estado do Espírito Santo. Igualmente graças aos meus empenhos preliminares a Associação Wspólnota Polska, de Varsóvia, decidiu conceder ajuda financeira a essa comunidade polônica para a construção da Casa Polonesa. Quando participei de duas solenidades em Águia Branca – da tomada de posse da paróquia pela nossa Província (26.10.2003) e da inauguração da Casa Polonesa (18.2.2006), confesso sinceramente que a minha alegria foi imensa. Tive então a consciência interior de que o nosso cofundador pe. Inácio Posadzy, ao nos ver do outro mundo, da Casa do Pai Celestial, também estava contente. Seus filhos espirituais haviam voltado a esta região, onde havia perto de 80 anos ele mesmo, em condições primitivas, tinha prestado assistência aos nossos compatriotas no começo da sua difícil vida de imigrantes, quando eles estavam colonizando esta bela região, mas que ao mesmo tempo era tão difícil para a incipiente agricultura.
A enquete realizada apresenta o atual grupo étnico polonês em Águia Branca, muito ativo e diligente. Todas as respostas que recebi são muito valiosas a lançam uma luz sobre essa específcia coletividade polônica, tão isolada e geograficamente distante dos núcleos poloneses situados na parte meridional do Brasil. A análise das pesquisa realizada fornece muita esperança para o futuro.
A todas as pessoas que com as suas respostas satisfizeram as minhas indagações e que contribuíram muito para a compreensão dessa especial comunidade polônica, expresso o meu cordial agradecimento e o meu respeito! Neste ponto gostaria de acrescentar ainda que o pesquisado mais jovem tinha 20 anos, e a pessoa mais idosa – 89 anos. Nas respostas dos representantes da comunidade polônica encontrei um sopro de trranquilidade quanto ao futuro da comunidade polônica em Águia Branca. Percebo, analisando as respostas às perguntas da enquete, a grande importância que o grupo étnico polonês em Águia Branca atribui à presença e ao ministério dos padres poloneses da Sociedade de Cristo entre os descendentes dos nossos imigrantes, bem como em prol de toda a comunidade católica local. Não é menor a atenção que a colônia polonesa dedica ao surgimento e à diversificada atividade da Casa Polonesa.
Da enquete resulta claramente que graças ao ministério dos padres poloneses e à atividade da Casa Polonesa, os valores, as tradições, os costumes deixados pelos colonizadores poloneses de Águia Branca, e que continuam visíveis e vivenciados pela comunidade polônica, poderão desenvolver-se e perdurar por muito tempo. Dessa forma o belíssimo mosaico da presença de raças, culturas e nacionalidades que se encontram no Estado do Espírito Santo (e que se originam dos descendentes de índios, portugueses, africanos, holandeses, alemães, pomeranos, suíços, tiroleses, italianos) foi também colorido e enriquecido pelos descendentes de poloneses, que de diversas formas contribuíram para o desenvolvimento deste belo e rico Estado da Federação Brasileira.
Permanece ainda alguma insatisfação após a pesquisa a respeito do estado atual da identidade polonesa entre os descendentes dos colonizadores poloneses em Águia Branca, a saber: a nossa pesquisa não envolveu a geração jovem. Observo que para a plenitude dessa imagem será preciso realizar num futuro próximo uma enquete entre os jovens e as crianças oriundas de famílias polonesas. Então teremos uma imagem plena da atual grupo étnico polonês em Águia Branca.
* Texto apresentado no Simpósio Brasil – Polônia em Águia Branca – ES aos 2 de maio de 2009.
1. POSADZY, Ignacy pe. Drogą pielgrzymów. Wrażenia z objazdu osad polskich w Południowej Ameryce w latach 1929 oraz 1930-1931. 5.ed. Poznań: Towarzystwo Chrystusowe dla Polonii Zagranicznej, 1985.
2. MEDEIROS, Rogério. Poloneses. In: Espírito Santo. Encontro de raças. Rio de Janeiro: Reproarte Gráfica e Editora, 1997; MALACARNE, A. Águia Branca. Uma rapsódia polono-brasileira na selva capixaba. São Gabriel da Palha: Gráfica Gomieri, 2004; BRAZ DE ARAÚJO, A. F.; FEDESZEN MOZDZEN, C. C.; GOMES, Pinto Araújo E.; PIMENTA, J. da Silva Alves. História de um povo. Gráfica Notícia, 2000; GLAZAR, E. Brava gente polonesa. Memórias de um imigrante, formação histórica de São Gabriel da Palha e expansão do café conilion no Espírito Santo. Ilha de Vitória: Flor & Cultura Editores, 2005. Eduardo Glazar, em seu livro de memórias, apesar de não escrever diretamente sobre Águia Branca, dedica diversas páginas à colonização dessa localidade. Foi em Águia Branca que, em 1931, como imigrante, ele iniciou junto com seus pais a sua rica história.
3. MALCZEWSKI, Z. SChr. Polonii brazylijskiej obraz własny. Zapistki emigranta. Curitiba: Projeções, 2007.
4. Ibidem, p. 244.
5. Graças à ajuda do pe. Zbigniew Czerniak SChr e de Luiz C. G. Fedeszen, foram distribuídos 70 formulários. A enquete foi respondida por 44 pessoas. Abaixo, entre parênteses, além dos nomes dessas pessoas, forneço também a sua idade: : Marcos Zarowny (45), Willian Pereira Mozdzen (33), Joana Ptak Salvador (46), Diogo Paulo Salvador (44), Douglas Ptak Salvador (20), Wilma Nunes Pereira Mozdzen (64), Bronislau Fedeszen (71), Luziane Kubit Fedeszen (37), Jozefa Kubit (55), Mário Antônio Wrublewski (46), Aureo Cuerci Fedeszen (42), Sandra Pereira Mozdzen dos Passos (37), Valéria Cuerci Fedeszen Zarowny (36), Osvaldina Trozeski Samora (57), Laura Chiconi Bino (70), Estanislau Wrublewski (70), Valdete Cizoski Mozdzen (40), Sofia Cizoski Mozdzen (68), Helena Kubit (63), José Cichoni Neto (57), Verônica Jacentick Lacerda (56), José Ozidoro Wrublewski (64), Bernardo Matias Rafalki (52), Anna Patlalhuki Cichoni (89), Flodisio Matuchak (67), Pedro Wichlem Minuto (42), Gilsemar Sterpa (35), Antônia Rafalski Jurewiski (69), Erincton Kubit (29), José Aniszewski (55), Onofre Rafalski (67), Madalena Labendz Rafalski (59), Áurea Maria Rocha Forrechi (50), Domingo Vincionek (83), Kristina Aniszeswiski (64), Maria Delapina Rocha (68), Germana Milagre do Nascimento (68), Luiz Carlos Dalafina (42), Maria Mozol Kubit (80), Maria Felix Kubit (49), Valter Cichoni (43), Piotr Cichoni (89), Neide Ranquete Trazeski (55), Luiz Carlos Cuerci Fedeszen (47).
6. MALCZEWSKI, Z. SChr. Polonii brazylijskiej obraz własny..., op. cit., p. 221-227.
Zdzislaw MALCZEWSKI SChr
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