A Câmara Municipal de Curitiba homenageia os 140 anos da imigração polonesa no Brasil


                                                                                                 Zdzislaw MALCZEWSKI SChr

 

Noite do dia 26 de junho de 2009 em Curitiba. Cai uma chuva fina, e o vento gelado fustiga os transeuntes mais corajosos.  No centro da cidade situa-se o Palácio Rio Branco, sede da Câmara Municipal. Apesar da importuna chuva de inverno, é a esse palácio que se dirigem representantes da comunidade polônica local a fim de participar de uma importante solenidade. Por proposição de Tito Zeglin – um vereador de origem polonesa e que exerce a função de vice-presidente da Câmara Municipal – realiza-se justamente nessa noite uma solene sessão dessa Câmara para homenagear os 140 anos da imigração polonesa no Brasil. A Câmara Municipal de Curitiba compõe-se de 38 vereadores. A proposta de Tito Zeglin foi aprovada por 37 deles. Entre eles podem ser encontrados mais alguns nomes com ressonância polonesa. Com certeza não podia ser diferente, porquanto o grupo étnico polonês em Curitiba, como aliás em todo o estado do Paraná, é o mais numeroso dentro do cadinho de tantos grupos étnicos que formam o belo mosaico da sociedade local.

 

A sala de sessões da Câmara fica apinhada de convidados. Olhando para os seus rostos, percebo muitos conhecidos, da mesma forma que pessoas amigas de origem polonesa. Não faltam também simpatizantes brasileiros com laços de amizade ou de parentesco com a comunidade polônica local. Entre os presentes estão algumas pessoas de raízes polonesas por mim convidadas, da minha paróquia de S. João Batista, situada no bairro do Tingui, onde não faltam descendentes dos nossos corajosos imigrantes. Entre as pessoas sentadas na sala de sessões podiam ser vistos os hábitos de irmãs religiosas de congregações que desde o início da colonização polonesa fizeram companhia aos nossos imigrantes nesta vermelha e hospitaleira, mas também difícil terra brasileira: as Irmãs Franciscanas da Sagrada Família e as Irmãs de Caridade de S. Vicente de Paulo. Entre as mencionadas irmãs, há também um grupo representativo daquelas que vieram reforçar as fileiras missionárias neste país já após a Segunda Guerra Mundial.  Não faltam também representantes de congregações masculinas que desde os primeiros anos da imigração polonesa prestaram assistência aos nossos imigrantes: os Padres Verbistas e Vicentinos, bem como aqueles que vieram mais tarde: os Padres da Sociedade de Cristo e os Marianos.  Entre os presentes encontra-se o bispo polônico Dom Ladislau Biernaski – neto de imigrantes poloneses, ordinário da recém-criada diocese de São José dos Pinhais, cujo território até há pouco tempo fazia parte da arquidiocese de Curitiba.

 

A solenidade teve início com o convite para os representantes das autoridades e instituições locais fazerem parte da mesa presidencial. Após a execução do Hino Nacional Brasileiro, a presidência da sessão solene é assumida pelo vice-presidente da Câmara Municipal, Tito Zeglin. De acordo com o regulamento da Câmara, para poder pronunciar o seu discurso festivo ele transmite a presidência da sessão ao vereador Tico Kuzma – igualmente um representante da jovem geração polônica. Após pronunciar palavras de saudação dirigidas aos componentes da mesa presidencial e aos numerosos presentes na sala de sessões, Tito Zeglin esclarece por que o dia 26 foi escolhido como o dia em que a Câmara Municipal quis prestar uma homenagem à meritória coletividade polonesa. O dia 26 de agosto é comemorado anualmente pela comunidade católica na Polônia, bem como pela comunidade católica mundial, como o dia dedicado à Santíssima Virgem Maria de Czestochowa. Em muitas comunidades polônicas no Sul do Brasil, no dia 26 de cada mês reúnem-se os fiéis para conjuntamente orar a Nossa Senhora de Monte Claro.  A seguir o orador apresentou um esboço da história dos 140 anos da presença polonesa no Brasil, recordando os traços que caracterizam os poloneses e os seus descendentes: a honestidade, a laboriosidade, a profunda fé e o apego à Igreja Católica, além do senso de humor. Mencionou igualmente alguns costumes poloneses que se preservaram até o dia de hoje nos núcleos polônicos espalhados pelo País.

 

Após o seu pronunciamento, Tito Zeglin continuou a presidir a sessão solene da Câmara Municipal. Pediu que tomasse a palavra o senhor Marian Kurzac – presidente da Sociedade União Juventus. O orador apresentou a história dessa sociedade de raízes polonesas e fez a todos um convite para visitarem a nova sede da Sociedade.

 

O orador seguinte foi o presidente da Representação Central da Comunidade Brasileiro-Polonesa do Brasil (Braspol) – engenheiro Rizio Wachowicz. Com a espontaneidade que lhe é característica, aliada ao conhecimento de causa da comunidade polônica local, ele apresentou aos participantes da sessão a epopeia do imigrante polonês neste país, destacando a sua contribuição para o desenvolvimento da pátria brasileira. Falou também dos dezenove anos da luta da Braspol, com seus núcleos espalhados por 16 estados da Federação Brasileira, para que as comunidades polônicas locais preservem a consciência da sua identidade étnica polonesa e para que se envolvam na preservação – dentro deste Brasil multiétnico e culturalmente rico – dos costumes e das tradições polonesas.

 

A seguir Tito Zeglin convidou o bispo Dom Ladislau Biernaski para tomar a palavra. Apresentando-se, o hierarca disse que é neto de imigrantes poloneses que se estabeleceram nos arredores de Curitiba em Órleans (que hoje é um bairro da cidade). O orador recordou da sua infância aquilo que constituía a riqueza da comunidade polônica: a profunda fé e a viva participação na vida da Igreja, o valor da família, a escola polonesa bilíngue, bem como a existência de uma sociedade agrícola polonesa, que de diversas formas prestava ajuda aos agricultores. O ordinário da diocese de São José dos Pinhais destacou a significativa riqueza da região desenvolvida em que lhe coube prestar a assistência religiosa. Segundo ele, do alto essa região lembra a Polônia, a Alemanha ou a Suíça desenvolvidas. Na área da sua diocese há um grande número de descendentes dos imigrantes poloneses que ali se estabeleceram e que hoje, com o seu trabalho honesto, contribuem para o desenvolvimento dessa região do Paraná. Após o pronunciamento de Dom Ladislau Biernaski, Tito Zeglin pediu à Senhora Dorota Joanna Barys – Cônsul-Geral da Polônia em Curitiba – para fazer o seu pronunciamento. A diplomata fez uma apresentação sintética das principais razões da emigração maciça dos camponeses poloneses ao Brasil. Apresentou também a realidade da Polônia atual, gozando de vinte anos de democracia e soberania e fazendo parte da União Europeia.

 

O item seguinte da sessão foi a entrega de diplomas comemorativos: ao Consulado-Geral da Polônia em Curitiba, a representantes de sociedades e corais polônicos, a congregações religiosas que servem à comunidade polônica local e à Missão Católica Polonesa. Dorota Joanna Barys, cônsul-geral da Polônia em Curitiba, entregou ao reitor da Missão Católica Polonesa um diploma com o seguinte texto: “A Câmara Municipal de Curitiba, capital do Estado do Paraná, por ocasião da solenidade promovida no dia 26 de junho de 2009 por solicitação do vereador Tito Zeglin, expressa votos de felicitação e aplauso à Missão Católica Polonesa no Brasil. Palácio Rio Branco, 26 de junho de 2006. (Na parte inferior do diploma aparecem as assinaturas) Vereador Tito Zeglin – I Vice-Presidente da Câmara e propositor, Vereador João Claudio Derosso – presidente”.

 

A execução coletiva do Hino Municipal de Curitiba encerrou a sessão solene. A seguir o vereador Tito Zeglin convidou todos os presentes a passar ao prédio vizinho, onde num grande salão realizou-se um encontro amigo e um coquetel. Num clima de cordialidade, de amizade polono-brasileira e polônica, transcorreu esse especial e simbólico encontro comemorativo dos 140 anos de história da presença polonesa no Brasil.

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