"Mensageiro de ideais. Silhueta do Pe. Benedito Grzymkowski SChr"
Introdução
Na época atual, em que somos inundados por tantas informações, poderíamos perguntar se há sentido em escrever ou publicar algum tipo de texto. Alguém poderia até indagar nesse contexto: “Por que mais um livro? Será que isso tem algum objetivo?” Visto que estou escrevendo e compondo estas palavras num todo, eu acredito − naturalmente, de forma muito subjetiva − que sim! Tal publicação se faz necessária! Sobretudo para salvar do esquecimento pessoas, fatos. “As pessoas se afastam tão depressa...” − escrevia o poeta polonês Pe. Jan Twardowski. Após a morte do Pe. Benedito Grzymkowski SChr, um dos meus amigos poloneses escreveu numa carta: “Como de costume − surge a reflexão: Este é o nosso destino − nós agimos, rezamos, servimos a Deus e à coletividade humana de diversas formas, e chega o momento de nos afastarmos. E nada podemos fazer contra isso. Assim é a vida”. Então, justamente, visto que as pessoas se afastam, surge uma espécie de necessidade interior de consolidar por mais tempo a vida, as ações, o trabalho delas entre nós por mais tempo, para nós, mas também para aqueles com quem alguém permaneceu, travou amizades, trabalhou, serviu e compartilhou os seus ideais...
Por que surgiu este livro? Qual foi o objetivo de mais este esforço − diferente na forma de coletar as informações − para que surgisse a presente publicação? Pois bem, esse propósito surgiu logo após a morte do Pe. Benedito, quando os nossos fiéis da paróquia S. João Batista, em Curitiba, começaram a publicar na rede social do Facebook textos que expressavam o seu respeito, o amor e a gratidão a esse idoso sacerdote polonês. Pensei então que seria um prejuízo se, com o decorrer do tempo e a passagem rápida das informações, essas manifestações se perdessem. Além disso, quando ainda começaram a chegar a Curitiba as expressões de união dos familiares mais próximos do Padre Benedito, de hierarcas poloneses e também de pessoas que foram suas amigas, tive justamente a ideia de coletar todas essas manifestações de proximidade, amizade e oração num só todo. Dessa forma, em pouco tempo já era significativo o número de textos − mais curtos ou mais longos − que pude reunir, provenientes de diversas pessoas e enviados de diversos lugares do mundo.
A esses textos já reunidos, que acima mencionei, decidi adicionar outros. E foi dessa forma que surgiu o presente opúsculo, que se integra numa espécie de unidade. O livro que surgiu transforma-se numa modesta prova de que um imigrante específico, pelos seus 47 anos de trabalho missionário no Brasil, procurou ser um mensageiro e uma testemunha de Valores. Escrevi acima “imigrante específico”, visto que recordo nesse contexto, com grande respeito e admiração, a intelectual polonesa Profa. Maria Paradowska, que se dedicou também à pesquisa da imigração polonesa no Brasil. Estando certa vez na Polônia de férias, fiz uma visita à Professora Maria em Poznań. Foi justamente por ocasião dessa visita em sua casa que travamos uma discussão a respeito da imigração polonesa no Brasil. Já como um antigo emigrante, tentei comprovar a essa eminente representante da ciência polonesa que nós, os missionários poloneses que trabalhamos em diversos lugares do mundo, também pertencemos ao grupo dos emigrados. Diante dessa minha afirmação, recebi da Professora Maria a resposta de que os missionários não são emigrantes! Não vou apresentar a continuidade da nossa discussão. Quero apenas assinalar um problema para ulteriores pesquisas sobre esse fascinante tema.
Independentemente de sermos considerados emigrantes ou de nos ser negado o direito de pertencermos a esse grupo social que no mundo é tão numeroso, eu gostaria de enfatizar com força: todo missionário é testemunha dos Valores que o moldaram em seu país natal e que ele leva consigo, em sua bagagem pessoal, àquelas pessoas a quem a Igreja o envia em nome do Evangelho de Jesus Cristo. Percebo, portanto, o Pe. Benedito Grzymkowski SChr como um mensageiro, uma testemunha de preciosos Valores que moldaram tantas gerações humanas em diversas latitudes geográficas.
Ao escrever sobre a pessoa concreta do Pe. Benedito, tenho em mente os seus Valores cristãos, que ele tão generosamente partilhou com os poloneses e com os membros da comunidade polônica do Brasil durante os seus 47 anos de ministério sacerdotal na Terra do Cruzeiro do Sul. Por muitos e muitos anos pude ver de perto a sua Pessoa, mas também ouvir os seus diversos pronunciamentos, tendo-me enriquecido com o seu afetuoso civismo polonês. Foi justamente graças aos valores patriótico-nacionais por ele expressos que tanto de bem pôde acontecer na comunidade dos polônicos brasileiros. Graças ao seu engajamento e à sua cooperação com muitos brasileiros influentes e amigos seus, da mesma forma que com líderes polônicos, surgiram muitas belas obras. No entanto, não é esta a ocasião para descrevê-las. Talvez algum dia algum pesquisador fascinado pela história se dedique à pesquisa da vida e da atividade do Pe. Benedito Grzymkowski SChr. Afinal, quase por meio século ele viveu e desempenhou um variado ministério no belo, hospitaleiro Brasil − amigo da Polônia e dos poloneses.
Todas essas manifestações escritas de amizade, gratidão e oração que pude coletar num todo mostram-nos esse missionário polonês tal como era visto por diversas pessoas. Especialmente pelos nossos fiéis brasileiros da comunidade de S. João Batista, em Curitiba.
Incluí na publicação também textos escritos pelo próprio Pe. Benedito. Durante os nossos sete anos de trabalho comum na paróquia de S. João Batista, muitas vezes lhe sugeri que registrasse as suas vivências brasileiras. Com frequência eu lhe lembrava alguns acontecimentos importantes da sua atividade no Brasil, estimulando-o à inciativa de escrever a respeito de muitas visitas, muitos encontros. Eu tinha em mente, também, muitos fatos relacionados com algumas das suas importantes ações, e que são pouco conhecidos dos brasileiros comuns. Infelizmente, não me foi possível convencê-lo a registrá-los, a fim de se tornaram − até num futuro não muito distante − uma valiosa fonte para os pesquisadores da história da colônia polonesa no Brasil ou para os missionários poloneses que trabalham dentro das estruturas da Igreja brasileira.
Permaneceu em mim esse tipo de decepção por não ter sido capaz de atingir o seu coração ou a sua mente, ou porque os meus argumentos não foram suficientemente convincentes para que ele se dedicasse à tarefa de descrever os fatos, os acontecimentos, as solenidades, os encontros... No entanto ficou uma pequena satisfação interior, porque, quando em meados de 2009 comecei a editar em língua polonesa o periódico Echo Polskiej Misji Katolickiej w Brazylii (Eco da Missão Católica Polonesa no Brasil), cujo título troquei dois anos depois para Echo Polonii Brazylijskiej (Eco da Comunidade Polônica Brasileira), consegui convencer o Pe. Benedito a descrever alguns acontecimentos que ocorreram na vida da colônia polonesa no Brasil. Alguns dos seus textos, que foram publicados no mencionado periódico, são apresentados na presente publicação, “em memória” e para o melhor conhecimento do seu autor.
Para que o leitor que tem em mãos este livro possa conhecer melhor a pessoa do Pe. Benedito, apresento no final do presente opúsculo algumas fotos selecionadas. A tarefa de selecioná-las não foi fácil, diante do fato de que eu tinha diante mim literalmente montes de fotografias que foram deixadas por uma “Pessoa de grande formato”, como se expressava a sua geração a respeito de pessoas que demonstraram a sua riqueza de espírito, a sua cultura e exerceram uma imensurável influência no ambiente em que atuaram.
Tenho a profunda esperança de que, graças aos textos publicados, bem como graças às fotos que ilustram os acontecimentos, o prezado leitor poderá conhecer “ao menos um pouco” a Pessoa que Deus me permitiu conhecer em meados de 1976, durante o Capítulo Geral na Casa Central da Sociedade de Cristo em Poznań. Dois anos depois, como superior da comunidade dos padres da Sociedade de Cristo na América do Sul, ele nos recebeu − três missionários recém-vindos da Polônia − no aeroporto no Rio de Janeiro.
Guardo uma grata recordação das suas visitas nas paróquias em que exerci o ministério sacerdotal, em Carlos Gomes e Ijuí (no estado do Rio Grande do Sul) e no Rio de Janeiro. Posteriormente, a partir de 1995, os nossos caminhos de vida aproximaram-se mais ainda. Durante os nove anos em que exerci o ministério de provincial, muitas vezes viajei com ele para o interior, a fim de proporcionar variada assistência nas comunidades polônicas. Participamos juntos de diversas conferências científicas dedicadas à problemática polônica em universidades, na Polônia ou no Brasil. O período dos últimos nove anos em que residimos sob o mesmo teto e servimos aos fiéis na comunidade paroquial de S. João Batista foi para mim especial, porque − como ele mesmo muitas vezes me dizia − “Você conheceu perfeitamente a minha vida, como ninguém outro”...
Juntamente com todos aqueles que − mesmo por pouco tempo − se tenham encontrado com o Pe. Benedito Grzymkowski SChr, quero dizer: tive a graça divina e ao mesmo tempo a felicidade de conhecer, de trabalhar e de ver de perto um “mensageiro de valores e princípios”! É assim que o guardo em minha memória!
Zdzislaw MALCZEWSKI SChr
Curitiba, 23 de maio de 2013, no 54º aniversário da ordenação sacerdotal do Pe. Benedito Grzymkowski SChr.