A pastoral polonesa entre as pastorais da Mobilidade Humana da Conferência dos Bispos do Brasil


 

 

 

                                                                                                      Zdzislaw MALCZEWSKI SChr

 

Nos dias 16-18 de setembro de 2009 realizou-se em Brasília o III Encontro Nacional do Setor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que se dedica à pastoral dos imigrantes, migrantes e pessoas a caminho (Pastoral da Mobilidade Humana). Entre as várias dezenas de participantes vindos das diversas regiões do País, havia alguns hierarcas responsáveis pelas diversas pastorais relacionadas com esse dinâmico setor da CNBB.

 

A inauguração do encontro ocorreu na sede da CNBB em Brasília, e dela participou o núncio apostólico, Arcebispo Dom Lorenzo Baldisseri. A solene abertura desse importante encontro foi realizada pelo Bispo Dom Luiz Pedro Stringhini – responsável dentro da CNBB pela comissão pastoral a serviço do amor, da justiça e da paz. O Secretário do Conselho Pontifício da Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, o Arcebispo Dom Agostino Marchetto, pronunciou a conferência A Igreja pós-conciliar e a pastoral da acolhida. Por sua vez o Pe. Cláudio Ambrozio, assessor do setor da Mobilidade Humana da CNBB, apresentou o livro recém-publicado Mobilidade Humana no Brasil: Orientações pastorais (Edições CNBB: Brasília, 2009, p. 142). O livro contém orientações pastorais relacionadas com o ministério em prol das pessoas migrantes.

 

Após a parte oficial do encontro, diante da sede da CNBB realizou-se um encontro de confraternização, durante o qual foram servidos sanduíches e refrigerantes.

 

No decorrer dos dois dias seguintes (17-18 de setembro), a reunião realizou-se no Centro Cultural Missionário da CNBB. O encontro foi presidido pelo Arcebispo Dom Maurício Grotto de Camargo – responsável pelo setor da pastoral da Mobilidade Humana do Episcopado local. Durante o encontro, os representantes pelas pastorais específicas fizeram a apresentação do seu ministério característico entre os imigrantes, migrantes e diversos grupos humanos em mobilidade – por variadas razões – através do território do País.

 

O Bispo Dom Alessandro Ruffinoni falou da pastoral surgida há alguns anos entre os brasileiros que optaram pela vida de emigrados.

 

Entre os demais participantes do encontro, responsáveis pelas variadas pastorais que servem às pessoas a caminho, esteve o Arcebispo Dom Murilo Krieger, que apresentou aos participantes do encontro o projeto de uma nova pastoral, direcionada aos turistas e ao turismo de caráter religioso. O hierarca apresentou o livro publicado pela CNBB Pastoral do turismo: desafio e perspectivas (Edições CNBB: Brasília, 2009, p. 254).

 

O reitor da Missão Católica Polonesa, que também participou do encontro, apresentou um esboço da história do grupo étnico polonês e da pastoral direcionada aos imigrantes poloneses e aos descendentes dos nossos emigrados, apegados à fé e às manifestações da religiosidade polonesa.

 

Entre os cinquenta participantes do encontro havia mais um missionário polonês, o Pe. Mariano Litewka CM. Há trinta anos ele fundou no Brasil a pastoral rodoviária, que nos grandes postos de combustíveis presta assistência religiosa aos motoristas de caminhões e aos funcionários desses postos. Atualmente, três sacerdotes vicentinos viajam em caminhões especiais pelas estradas brasileiras a fim de servir às pessoas que por elas se deslocam transportando mercadorias. Cada caminhão é equipado de uma capela, uma lojinha com objetos de culto, um pequeno dormitório, uma cozinha e um banheiro.

 

Do encontro participou também o representante da pastoral acadêmica da cidade de João Pessoa, Paraíba, bem como uma irmã religiosa que atua numa pastoral semelhante em Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais. Eles trouxeram consigo a inquietação que quiseram transmitir a nós todos, a saber, o interesse pelos estudantes estrangeiros que de diversos países do mundo vêm ao Brasil para nas universidades daqui enriquecer os seus conhecimentos, bem como para partilhar a riqueza intelectual dos seus países. Foi-nos pedida a ajuda para que nas diversas regiões deste grande país sejam organizados centros de pastoral acadêmica direcionada aos estudantes estrangeiros.

 

Esse encontro de representantes de pastorais que servem às pessoas a caminho – do qual participou o representante da Santa Sé, bem como diversos hierarcas locais – demonstrou a vitalidade da Igreja local, que com atenção e amor samaritano debruça-se sobre o homem que por diversas razões escolhe a mobilidade, para numa outra região do País ou no exterior buscar melhores e mais dignas condições de vida.

 

Tendo participado desse encontro após ter trabalhado como missionário no Brasil já há trinta anos, percebi mais uma face da Igreja local, para a qual anteriormente de certa forma não havia prestado atenção. A Igreja no Brasil não é apenas uma Igreja jovem. Com sensibilidade evangélica, ela procura sobretudo sair ao encontro dos desafios que lhe apresenta o condicionamento social, espiritual, econômico, demográfico e cultural que resulta da globalização. Se por um lado o fenômeno da globalização escancara as fronteiras dos países para o livre fluxo de mercadorias, dinheiro e diversos bens culturais, por outro lado muitas vezes exclui grupos de pessoas da livre utilização dos direitos fundamentais que lhes cabem no seu lugar de residência. É por isso que muitas vezes a única saída dessa exclusão é recorrer à migração, entendida em sentido amplo. Em muitos casos, a única esperança e o único apoio da pessoa a caminho torna-se a Igreja, como uma comunidade de irmãos e irmãs que abrem os seus corações ao semelhante, que dentro da sociedade os estranhos com frequência veem como saciado.  Igualmente a Igreja, como instituição, através da atividade oficial dos seus representantes busca soluções legais para a pessoa migrante.

 

Tendo participado do encontro nacional das pastorais a serviço das pessoas em mobilidade, entre os seus participantes não me senti como um estranho. Os hierarcas, os padres, as irmãs religiosas, as pessoas leigas envolvidas no ministério em prol da pessoa a caminho apresentaram-me a beleza da comunidade eclesial, dentro da qual ninguém se pode sentir estranho ou diferente. Simplesmente tinha-se a impressão de ser um deles, preocupados em abrir amplamente e com hospitalidade o coração diante do semelhante, segundo o espírito do amor evangélico. Quando parti da capital, iluminava-me a convicção de que todo discípulo de Cristo que vive na sociedade atual, apressada e muitas vezes desnorteada, pode transformar a face do mundo e da Igreja unicamente através de uma postura de hospitalidade evangélica e abertura diante do semelhante, seu irmão, que – como ele – é uma criatura divina.

 

     

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