O messianismo polonês e o papel político singular de São João Paulo II


 

O messianismo, na religião judaica, diz respeito à crença na vinda de um Messias, redentor eleito por Deus para redimir toda a humanidade por intermédio de Israel. Por extensão, significa a crença na vinda de um libertador ou salvador (um messias) que substituirá a ordem do presente, considerada má, por nova ordem baseada na justiça e na felicidade.

O messianismo romântico manifestou-se na filosofia, na política e na literatura. Utilizaram-se de concepções messiânicas os primeiros utopistas-socialistas, tais como o francês Claude Saint-Simon (1760-1825), que defendeu um socialismo planificador e tecnocrático, fundamentado sobre a racionalidade e a constituição de uma nova classe de industriais. No entanto, esse messianismo desenvolveu-se de maneira especial na literatura polonesa, sob a influência da situação específica da Polônia, que no final do século XVIII perdeu a sua condição de Estado independente, tendo seu território partilhado entre as potências vizinhas (Áustria, Prússia e Rússia).

 

O messianismo polonês

 

O messianismo polonês é uma corrente na filosofia polonesa cujo florescimento máximo ocorreu no século XIX, entre os Levantes de 1830 e 1963. Trata-se de uma filosofia especificamente polonesa, com a tendência, por um lado, de criar sistemas metafísicos especulativos e, por outro, de reformar o mundo pela filosofia. Essa corrente propagava também a visão geral de que os poloneses, como Nação, possuem alguns traços de personalidade que de maneira especial os distinguem entre as nações do mundo.

Em território polonês esse ideal teve uma popularidade especial. Nos séculos XVII e XVIII, em meio à população judia têm surgido seitas que se baseavam num líder carismático, proclamado pelos seus seguidores como um messias. Talvez em razão do contato permanente com a cultura judaica, ou talvez em razão da profunda religiosidade, já no período do Barroco (séculos XVII e XVIII) começaram a surgir na filosofia do romantismo os primeiros elementos do messianismo.  A Nação polonesa, que seria originária do antigo povo dos sármatas[1], teria a cumprir um papel especial na história do mundo. A República das Duas Nações[2] devia ser o baluarte da cristandade, o asilo da liberdade e o celeiro da Europa. Esses ideais foram expressos por Wespazjan Kochowski (1633-1700), poeta, historiador da corte do rei João III Sobieski, representante do chamado barroco sármata.

O messianismo romântico originou-se das tradições judaico-cristãs, mas reportava-se à visão do martirizado Jesus-Messias (os eslavos, a Polônia), que devia salvar e unir os pecadores (as outras nações da Europa).

As principais características da filosofia messiânica, comuns à maioria dos seus representantes conhecidos, são:

- a convicção a respeito da existência de um Deus pessoal;

- a fé na existência eterna da alma;

- a ênfase ao predomínio das forças espirituais sobre as físicas;

- a visão da filosofia e/ou da nação como o instrumento para a reforma de vida e a salvação da humanidade;

- a ênfase ao significado eminentemente metafísico da categoria de nação;

- a afirmação de que o homem pode realizar-se plenamente apenas no âmbito da nação, numa comunhão de espíritos;

- o historicismo manifestado na afirmação de que são as nações que determinam o desenvolvimento da humanidade.

 

Para Józef Hoene-Wroński[3], que introduziu o conceito do messianismo na filosofia polonesa, o messias que devia introduzir a humanidade num período de felicidade era a filosofia. Para o principal divulgador do messianismo na consciência de uma audiência mais ampla, o poeta Adam Mickiewicz[4], esse papel caberia à Polônia.

Além dos citados Wroński e Mickiewicz, os mais importantes messianistas poloneses foram: August Cieczkowski, Józef Bohdan Dziekoński, Józef Gołuchowski, Józef Kremer, Ludwik Królikowski, Karol Libelt, Wincenty Lutosławski, Andrzej Towiański, Bronisław Trentowski, Jan Paweł Woronicz.

 

O messianismo polonês tinha um caráter especulativo-metafísico e antinaturalista. Não era a ideia geral, como em Hegel[5], mas a alma humana individual que constituía a urdidura da realidade. Tinha por objetivo não apenas o conhecimento da verdade, mas a realização de uma reforma de vida e a salvação da humanidade. O agente da salvação, o “messias”, devia ser a própria filosofia, que revelaria a verdade, como julgava Wroński, ou ainda a nação polonesa, que conduziria a humanidade à verdade, como acreditava Mickiewicz.

Contrariamente ao idealismo alemão, o messianismo polonês era teísta e personalista, além de ser irracionalista, visto que colocava a vontade e a ação acima do pensamento.

Como corrente filosófica, o idealismo polonês perdeu o seu significado após a queda do Levante de Janeiro (de 1863), mas foi continuado por alguns filósofos, tais como Wincenty Lutosławski (1963-1954), o qual acreditava que o messianismo é o degrau mais elevado do pensamento filosófico e o mais próximo da verdade.

 

O messianismo na literatura polonesa

 

Na literatura polonesa, o messianismo se identifica de maneira especial com o período romântico, mas elementos messiânicos surgem já nos seus primórdios, por exemplo na obra do padre Piotr Skarga[6], no qual o messianismo se relaciona com as advertências contra a queda da nação, que ao mesmo tempo era apresentada como permanecendo em união especial com Deus − o seu protetor.

No início do século XIX surgiu na literatura polonesa como uma reação às partilhas do país. Na literatura romântica, o messianismo se manifesta após a queda do Levante de Novembro (de 1830).

O messianismo é uma crença ou, antes, um conjunto de crenças relacionadas com o papel salvador de um mediador-messias que, sacrificando-se por todos, resgata a culpa de todos. Esse mediador pode ser um indivíduo ou um grupo, por exemplo uma nação ou uma classe social. O messianismo pode ter um caráter religioso ou social.

O messianismo se relaciona com as tendências milenaristas, significando qualquer movimento de natureza política ou religiosa que se caracteriza pela espera da salvação iminente e coletiva deste mundo, surgindo, em geral, como resposta a uma situação de conflito. As raízes do messianismo remontam à religião judaica, tendo surgido mais tarde no âmbito de muitas culturas, por exemplo na França do século XIX. É geralmente a religião de nações fracas, ameaçadas, embora exista também um típico messianismo da dominação, relacionado com tendências nacionalistas, por exemplo na Rússia do século XIX.

Na literatura polonesa, o messianismo se manifesta de forma mais visível no período do Romantismo, especialmente na pessoa do poeta Adam Mickiewicz. O messianismo de Mickiewicz, no começo individual, evolui com o tempo para coletivo, baseado na convicção sobre o papel salvador da nação. Relaciona-se também com o missionismo − a convicção a respeito da missão moral da nação polonesa, que devia fazer renascer a Europa. Convém, igualmente, registrar a antinomia do messianismo de Mickiewicz. Por um lado o poeta salienta o papel salvador do sofrimento e a necessidade de submeter-se a ele; por outro lado, especialmente nos anos 40, ordena uma mudança ativa do mundo.

O Romantismo chamava a atenção para as nações e os povos como sujeitos da História. Em toda a literatura polonesa, não encontraremos o fenômeno do messianismo tão detalhadamente descrito como aquele que ocorre em Mickiewicz, na “Visão do Padre Pedro”, na cena V da III parte dos Antepassados. O Padre Pedro vivenciou uma visão que é uma resposta de Deus − um enlevo místico em que lhe é dado ver a história da Polônia e o seu futuro. Essa visão é uma realização romântica do lema do messianismo nacional, visto que o Padre Pedro vê a história da Polônia estruturada a exemplo da história de Cristo − o martírio da nação polonesa deve salvar os outros povos que lutam pela liberdade. Dessa forma, o sacrifício polonês possui igualmente um sentido universal, é como que a renovação do caráter universalmente redentor de Cristo. Esse sacrifício é feito pela liberdade e deve salvar o mundo do atual momento histórico. Deus escolheu a Polônia não apenas em razão dos seus antigos méritos em prol da fé e da liberdade, mas também em razão do caráter inocente dos sofrimentos por que havia passado.

A visão do padre é como que uma resposta à catástrofe da história, que foi para os poloneses a derrota no Levante de Novembro (de 1830). Todas as visões são interpretadas numa perspectiva bíblica. Por exemplo, o motivo da ressurreição de Cristo é o prenúncio da recuperação, pela Polônia, da longamente esperada independência.

As imagens da “Visão do Padre Pedro” são obscuras, repletas de símbolos, reticências e enigmas. O conjunto se assemelha às revelações bíblicas, por exemplo ao Apocalipse de São João. O destino da nação polonesa é apresentado nitidamente de conformidade com a história de Cristo. Os diversos acontecimentos têm as suas analogias e, por isso, toda a visão é uma realização literária da concepção “Polônia − Cristo das Nações”, o que de forma ideal se relaciona com o messianismo.

Outra obra de Mickiewicz em que se manifesta o seu ideal messiânico são os Livros da nação e da peregrinação polonesa (1832), que se transformaram numa espécie de catecismo dos emigrantes poloneses. Aliás, o título primitivo dessa obra era Catecismo da peregrinação polonesa. A obra é estilizada segundo a Bíblia e os Evangelhos (a começar pelo título, porque “Livros” é o correspondente do termo grego “bíblia”) e aborda as questões políticas parcialmente em forma de parábolas.  Os Livros operam com uma ética anti-individualista, estranha ao heroísmo individual. Essa obra não apenas se dirige a um herói coletivo − os Irmãos, a Fé, os Soldados − e ensina verdades que se relacionam com toda a comunidade dos emigrantes, mas é até tratada como uma obra coletiva, cujo autor reduz o seu papel ao mínimo, vendo em si o transmissor de pensamentos “recolhidos da história da Polônia, e dos escritos, e dos relatos, e dos ensinamentos dos poloneses, pessoas piedosas e dedicadas à Pátria, mártires, confessores e peregrinos e, algumas coisas, da graça divina”[7].  De acordo com essa intenção, a obra foi publicada anonimamente e lhe foi conferido o formato poligráfico de um manual de oração. Os Livros deviam sobretudo educar e instruir. Educar a multidão dos emigrados poloneses e ensinar a religião da liberdade e da fé na sua vitória. No entanto a obra não se concentra no sentido salvador do próprio sofrimento, mas na mudança e na renovação espiritual do mundo, que devem ser conquistadas pelo esforço humano. Não apregoam a passiva expectativa do pagamento divino pelo sangue e pelo sofrimento. O seu messianismo exige a ação e convoca os leitores a um múltiplo esforço.

Os exilados, aos quais se dirigem os ensinamentos morais dos Livros da peregrinação, não são simples emigrantes, mas cavaleiros da liberdade universal, escolhidos por um destino superior. Por isso Mickiewicz os chama de peregrinos, ou seja, pessoas que peregrinam em busca do objetivo messiânico de uma dupla liberdade: do seu próprio país e dos povos da Europa, além de apóstolos. Esse apostolado, assentado no modelo bíblico, devia basear-se em posturas de devotamento, sacrifício amor e humildade.

O autor dos Livros da peregrinação é ao mesmo tempo profeta e político, que engajou a historiosofia e a ética da sua obra na luta pelo presente revolucionário da Europa. Em grande medida graças à potente inflexão libertária, a obra conquistou uma enorme popularidade não apenas entre os emigrantes poloneses − três edições no decorrer de três meses − mas também numa escala mais ampla, uma vez que rapidamente foi traduzida para as principais línguas europeias.      

O Romantismo não apenas se interessava por fatos históricos concretos, mas também criava sistemas que deviam esclarecer a regularidade do desenvolvimento da História, ou seja, os chamados sistemas historiosóficos.

A visão romântica da História moldava-se em relação com as convicções milenaristas, com a expectativa de uma grande mudança e renovação da História. Generalizando essa visão, pode-se dizer que o esquema romântico da História consiste na sua apresentação como uma caminhada do paraíso perdido ao paraíso reconquistado. Essa visão possuía uma dimensão otimista no messianismo de Mickiewicz.

 

Outro nome de destaque no messianismo romântico é o dramaturgo e poeta polonês Zygmunt Krasiński (1812-1859). Como outros filósofos poloneses com quem colaborava, foi afetado pela chamada filosofia idealista de Hegel e dos seus discípulos. Ele, porém, transformou esse idealismo à luz da doutrina católica, com a qual se identificou. Dessa forma foi capaz de inserir o destino da Polônia no plano geral da Providência, profundamente convencido de que toda nação individual − instrumento da Vontade Divina − tinha a sua própria missão a realizar no harmonioso conjunto desse plano, em benefício de todas as outras.

Krasiński também via em sua nação martirizada o Messias das nações. A sua tarefa era estimular os poloneses a se envolverem na causa da sociedade internacional, buscando uma paz duradoura, baseada na justiça, liberdade e caridade. Em união com todos os românticos e messianistas poloneses, ele acreditava firmemente que essa causa, que para ele significava o advento do reino de Deus na terra, triunfaria com a ressurreição da Polônia, inaugurando uma nova era na história da humanidade.

 

Dentro do Romantismo polonês, insere-se também no messianismo o poeta e dramaturgo polonês Juliusz Słowacki (1809-1849). De certa forma Słowacki tinha uma rivalidade com Mickiewicz e diferenças com Krasiński a respeito das suas opiniões políticas. Questionando o martírio e o sofrimento passivo da Polônia, ele adota uma postura eminentemente ativa, ou seja, conclama à luta e à ação (por exemplo no seu drama político Kordian). Proclamava o progresso social compreendido como a revolta do espírito, “eterno revolucionário” (como no poema historiosófico e místico O Rei-Espírito).

 

A Polônia daquele período histórico turbulento era um símbolo da Europa. Representava todas as grandes ideias que se revoltavam em vão contra uma ordem estabelecida unicamente pela força. Esse país estava perfeitamente qualificado a representar o ideal da liberdade, que havia sido o ideal condutor de toda a sua história, e cujo aparente malogro, ainda que temporário, lhe era mais penoso do que a qualquer outra nação. E a Polônia não estava menos qualificada para representar o ideal da nacionalidade, porque, pelo próprio fato da sua existência, era uma testemunha de quão falso e artificial é identificar a nação[8] com o todo-poderoso estado, já que a nação podia sobreviver à destruição do estado e recusar-se a ser amalgamada com as potências vitoriosas que a dominavam politicamente. A Polônia estava também qualificada para representar o ideal de uma nova ordem internacional baseada em princípios morais, não porque ela mesma estivesse acima de qualquer censura, como às vezes os messianistas pareciam proclamar, mas porque estava expiando da forma mais terrível todas as faltas que havia cometido.

 

O grande papel político do papa São João Paulo II

 

São João Paulo II surge para a Polônia num momento histórico que guarda certas analogias com a Polônia repartida do século XIX e início do século XX. O ressurgimento do Estado polonês[9] após o término da Primeira Guerra Mundial (1918) − por obra de Józef Piłsudski (1867-1935), Ignacy Paderewski (1860-1941), Roman Dmowski (1964-1939) e muitos outros grandes poloneses − veio certamente atender aos ideais pregados pelos ideólogos messiânicos e sonhados por todos os membros da nação polonesa, que por mais de um século havia sido reprimida, mas não inteiramente dominada por potências estrangeiras. A independência recuperada deu início a um período de esforços pelo progresso econômico e cultural e pela consolidação política, mas que − infelizmente − durou apenas duas décadas.

Já em 1399, a Segunda Guerra Mundial trouxe um novo tempo de martírio, sofrimento e lutas pela preservação da nacionalidade e da autonomia política, que durante os anos da guerra provocaram milhões de mortes[10] e a destruição material quase total do país. Esse foi um período em que a Polônia sofreu novamente uma dupla agressão e uma dupla ocupação − por parte da Alemanha e da União Soviética.

O ressurgimento da Polônia após a guerra não foi exatamente aquele pelo qual seus filhos haviam lutado, dentro e fora das fronteiras da pátria. Em fevereiro de 1945, na Conferência de Yalta, as três potências − os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a União Soviética − haviam realizado a divisão das influências na Europa. Nessa nova “partilha”, a Polônia permaneceu na órbita da influência soviética. Embora formalmente livre, passou então a ter a sua autonomia política seriamente controlada e manipulada pela União Soviética − que estendia a sua total influência à chamada República Popular da Polônia e a outros países da Europa Central e Oriental que se encontravam nas mesmas condições. Essa situação se estendeu por quatro décadas e meia, até 1989.

A luta contra o regime imposto tornou-se inevitável e começou a intensificar-se sobretudo a partir dos anos oitenta do século passado, com o surgimento do Sindicato Solidariedade, liderado por Lech Wałęsa. Na época do comunismo a influência da Igreja católica sempre foi profunda, e era principalmente nela − quase como se fosse um partido político − que em razão das circunstâncias se concentrava a resistência da sociedade polonesa.

Em tais condições, a eleição do cardeal Karol Wojtyła para o trono pontifício, no dia 16 de outubro de 1978, teve nessa luta e nessa resistência um reforço incalculável. Não se tratava certamente do poderio temporal do papa, mas da sua força moral, que incutiu nos poloneses um novo alento e novas atitudes. Os poloneses se conscientizaram da sua força. Foi o cristianismo, presente na alma dos poloneses desde a constituição do Estado polonês há mais de mil anos, que trouxe essa força capaz de transformar a História. Foi assim que ocorreu a libertação da Polônia e de outros países europeus do comunismo, em que o papa polonês desempenhou um papel de primeiro plano. Para João Paulo II, o cristianismo era um elemento decisivo na configuração da unidade da Europa e da sua missão no mundo. Ele estava convencido de que a “genealogia espiritual” da Europa é a premissa da sua unidade. O papa polonês sentia que a Polônia, ao libertar-se em 1989, teve um papel na libertação de outros povos da região e pode tê-lo na recuperação das raízes cristãs comuns ao continente. "A nação ressurgirá − tinha escrito Mickiewicz nos Livros da peregrinação − e libertará todos os povos da Europa da escravidão”. A entrada da Polônia na União Europeia foi por isso definida por Wojtyła como um “ato de justiça histórica”.

As forças de resistência contra o comunismo tiveram como o seu grande ponto de referência o Solidariedade, que foi antes um Movimento que um Sindicato, e foram galvanizadas sobretudo pela pessoa de João Paulo II, tendo levado finalmente ao colapso do sistema comunista não só na Polônia, mas também em outros países na Europa Centro-Oriental. Com certeza, as reformas políticas e econômicas promovidas por Mikhail Gorbachev[11], assim como a política dos presidentes Carter[12] e Reagan[13], também contribuíram para impulsionar esse movimento e para provocar o histórico outono dos povos, quando até o final de 1989 os sistemas comunistas caíram em toda a Europa Centro-Leste.

Não obstante, a ação de São João Paulo II nesse sentido teve um peso preponderante. Especialmente as viagens do Papa à Polônia em 1979, em 1983 e em 1987 (para mencionar apenas as anteriores à queda do comunismo) constituíram uma ação muito significativa para alargar os espaços e defender a liberdade dos concidadãos. Esse papel do pontífice polonês foi reconhecido por eminentes representantes da política internacional. Para Zbigniew Brzezinski[14]: “Sem o Papa, sem a sua tenacidade, sem aquele conjunto de moderação e de obstinação que são o seu estilo, muitas das coisas que se realizaram diante dos nossos olhos nunca teriam começado a acontecer”[15]. Helmut Kohl[16] também foi um grande admirador do papel político do papa polonês para a queda do comunismo. Basta lembrar a sua visita à Berlim unificada e a passagem simbólica do papa e do chanceler sob a porta de Brandeburgo.

 

O significativo papel político que o Papa João Paulo II desempenhou para o bem da Polônia e do mundo é um aspecto da sua biografia que o enaltece entre as grandes personalidades que marcaram presença na História mundial. É um grato dever recordar essa sua atuação no ano da sua canonização e no ano em que a Polônia comemora os 25 anos da recuperação da sua plena soberania e os 10 anos da sua presença na União Europeia.             

 

Bibliografia

 

HALECKI, Oskar. A History of Poland. New York: Barnes & Noble Books, 1992.

 

MALCZEWSKI, Zdzislaw (org.). Polônia e Polono-Brasileiros − História e Identidades. Curitiba: Vicentina, 2007.  

 

PRZYBYLSKI, Ryszard; WITKOWSKA, Anna. Romantym. Warszawa: Wydawnictwo Naukowe PWN, 1997.

 

RICCARDI, Andrea. João Paulo II − A biografia (trad.: António Maia da Rocha). São Paulo: Paulus, 2011.

 

www.pl.wikipedia.org/wiki/Mesjanizm_polski

 

    

 

 


[1]Povo nômade e pastoril de origem iraniana. Os sármatas invadiram a região habitada pelos citas e alcançaram o Danúbio (séc. I). No século V foram subjugados pelos godos e pelos hunos. Desapareceram, misturados com outros povos. Na literatura polonesa dos séculos XV-XIX eram tidos como os antepassados da nobreza polonesa ou dos poloneses.  

[2]Estado composto da Coroa do Reino da Polônia e do Grão-Ducado da Lituânia, nos anos 1569-1795, por força da União de Lublin (1569).

[3]Józef Hoene-Wronski (1776-1853) − filósofo, matemático, astrônomo, físico, jurista, economista; principal representante do messianismo polonês; na matemática, introduziu o wronskiano (determinante chave na teoria das equações diferenciais).

[4]Adam Mickiewicz (1798-1855) − poeta polonês, principal representante do Romantismo em seu país.

[5]Friedrich Hegel (1770-1831) − filósofo alemão. Sua filosofia identifica o ser e o pensamento como um princípio único, aideia, que se desenvolve em três fases: tese, antítese, síntese.

[6]Piotr Skarga (1536-1612) − jesuíta, escritor polonês, pregador na corte do rei Sigismundo III Waza, eminente orador.

[7]Adam MICKIEWICZ. Księgi narodu i pielgrzymstwa polskiego. In: Pisma prozą, część II. Kraków: Czytelnik, 1952, p. 55.

[8]O que é a “nação”?  − Responde o papa São João Paulo II: “é a grande comunidade dos homens que estão unidos por várias ligações, mas sobretudo, precisamente, pela cultura”.

[9]A Polônia, como Estado, surge em 966, quando Mieszko I (? - 992) aceitou o batismo cristão e deu início à organização eclesiástica em seu país, tendo fundado em Poznań, a capital do Estado, o primeiro bispado polonês (968).

[10]Em 1939, a Polônia tinha uma população total de cerca de 35 milhões de habitantes, dos quais durante a guerra pereceram cerca de 6 milhões (sendo cerca de 3 milhões deles judeus).

[11]Mikhail Sergueievitch Gorbachev (n. 1931) − político russo, secretário-geral do Partido Comunista soviético (3/1985-8/1991), presidente do Soviete Supremo (10/1988-3/1990), instaurou um programa de reformas políticas e econômicas (perestroika, reorganização) e adotou posições especialmente inovadoras na política internacional (tratado de desarmamento de Washington, 1987). Eleito presidente da URSS pelo Congresso (3/1990), mas incapaz de impedir a desagregação soviética depois do golpe de estado que tentou derrubá-lo (8/1991), entregou o cargo em 31/12/1991.

[12]Jimmy Carter (James Earl C., dito) − n. em 1924, foi presidente dos Estados Unidos no período 1977-1981. Mostrou-se um fervoroso defensor da paz, dos direitos humanos e da democracia.

[13]Ronald Wilson Reagan (1911-2004) − político americano, presidente dos Estados Unidos no período 1981-1989. Em 1987 assinou com M. Gorbachev um acordo para a destruição dos mísseis de médio alcance na Europa.

[14]Zbigniew Kazimierz Brzezinski (n. 1928) − cientista político polono-americano, geoestrategista e estadista que serviu como conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos do presidente Jimmy Carter de 1977 a 1981.

[15]Apud: RICCARDI, Andrea. João Paulo II − A biografia. São Paulo: Paulus, 2011, p. 369.

[16]Helmut Kohl (n. 1930) − político alemão. Foi chanceler da República Federal da Alemanha (1982-1998) e teve papel importante na reunificação do país (1990).

 

                                                                                                                       Mariano KAWKA

 

 

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