O “Dia da Polônia” na 60ª Feira do Livro de Porto Alegre


 

A sexagésima edição da Feira do Livro de Porto Alegre realizou-se nos dias 31 de outubro a 16 de novembro de 2014. Já há vários anos, graças aos empenhos do líder da comunidade polônica local Sidnei Chmiel Ordakowski, essa comunidade tem apresentado a sua banca, onde é possível encontrar livros relacionados com a Polônia e a colônia polonesa no Brasil. Para os preparativos da presença polonesa deste ano na Feira, foi importante o ativo envolvimento do cônsul-geral da Polônia, Sr. Marek Makowski, juntamente com o cônsul honorário Dr. Wilson Rodycz, o presidente da Sociedade Polônia em Porto Alegre Sr. Paulo Francisco Ratkiewicz e o presidente da filial local da Braspol, Sr. Sidnei Ordakowski. Um fruto desse engajamento foi o fato de que, durante a realização da Feira, o dia 8 de novembro foi o dia dedicado à Polônia. Verificou-se que a programação preparada pelos organizadores foi muito rica. E assim, nos dias 7-9 houve seis painéis de discussão com a participação de dezesseis escritores e tradutores, com a apresentação de mais de vinte obras; uma exposição de quadros intitulada “Lendas Polonesas”, com a participação de um grupo de artistas, e uma sessão de contação de histórias para crianças, com base em contos e lendas polonesas. A rica programação envolveu também um recital de piano com obras de autores poloneses, a cargo do pianista polonês Grzegorz Niemczuk, além de uma programação lítero-musical a respeito das obras e da correspondência de Frederico Chopin. Não faltou também uma aula aberta da língua polonesa apresentada por professores da Universidade da Silésia.

 

Na manhã do dia 7 de novembro viajei de avião de Curitiba a Porto Alegre. Anteriormente, o cônsul Sr. Marek Makowski me havia animado a participar dessa Feira, na qual devia também ser apresentada uma modesta obra que preparamos conjuntamente com a Dra. Renata Siuda-Ambroziak, da Universidade de Varsóvia, para homenagear Rui Barbosa, um político brasileiro, grande amigo da Polônia e partidário da sua independência. A brochura, com uma tiragem de dois mil exemplares e contando mais de 60 páginas, foi publicada em língua portuguesa e polonesa graças ao apoio do Consulado Geral da Polônia em Curitiba.

 
No aeroporto, já estava à minha espera o prestativo e sempre disponível Sidnei Ordakowski. Passei toda a tarde daquela sexta-feira na área da Feira, onde na barraca polonesa encontrei muitos polônicos. Por sua vez o sábado, dedicado à Polônia, foi muito rico e ao mesmo tempo muito cansativo. Eu admirava não somente o envolvimento dos organizadores do “Dia da Polônia”, mas também o eficiente funcionamento de toda a Feira, onde havia um grande número de pavilhões de editoras brasileiras. O embaixador da Polônia, Sr. Andrzej Braiter, com sua esposa Katarzyna e a vice-consulesa Dorota Ortynska, introduziram um pouco do clima da diplomacia nesse nosso criativo ambiente literário. A apresentação do trabalho publicitário de Andrzej Bukowinski na Argentina, e sobretudo no Brasil, foi muito rica e mostrou-nos a contribuição de um polonês para a publicidade no Brasil. Bukowinski é autor de mais de 3 mil filmes publicitários. Muita riqueza intelectual nessa Feira... Na área da Feira havia também uma seção internacional, onde vários países tinham os seus pavilhões, entre os quais o nosso rico pavilhão polonês... Encontrei ali quatro pessoas da Universidade da Silésia e o prof. Wiktor Zymia, da França, ao qual tive o prazer de conhecer em novembro do ano passado na igreja polonesa do Rio de Janeiro. Naquela ocasião eu fazia companhia a Sua Excelência o Arcebispo Metropolitano Józef Kowalczyk, Primaz da Polônia. Graças a Wanda e André Hamerski, de Nova Prata (cerca de 200 quilômetros de Porto Alegre), todo o sábado apresentou na Feira um rico colorido. Eis que eles trouxeram os jovens do conjunto “Kalina”, que, além da apresentação de danças populares polonesas, durante o dia todo estiveram visíveis entre os visitantes da Feira. Pelos seus coloridos trajes populares eles despertavam o interesse do público; muitas pessoas pediam para tirar fotos junto com eles. No sábado à tarde apareceu no pavilhão polonês o conhecido político Olívio Dutra (de 1989 a 1992 prefeito de Porto Alegre; de 1999 a 2002 governador do Rio Grande do Sul; de 2003 a 2005 ministro das cidades). Naturalmente, em tal ocasião havia muitos que queriam tirar uma foto junto com ele.
 
 
À noite dirigimo-nos para o jantar na Sociedade Polônia. A sede dessa organização polonesa passou por uma reforma geral. Foi instalado um moderno elevador. Não é a mesma sede que visitei em novembro do ano passado acompanhando a visita oficial de S. Exa. o Arcebispo Józef Kowalczyk, Primaz da Polônia. Ao escrever estas palavras, eu mesmo não sei o que mais enfatizar: a imponente aparência da sede de quatro andares, a seriedade do cerimonial na recepção dos convidados ou ainda a eficiência e a elegância que podiam ser notadas durante o solene jantar? Não cabe a mim a avaliação da elegância dos nossos polônicos, tanto senhoras como senhores. Tendo vivido no Brasil já um bom trecho de tempo, não foram muitas as vezes em que tive a possibilidade de perceber o que os meus olhos viram na Sociedade Polônia em Porto Alegre! Expresso aqui a minha admiração e o meu respeito diante dos representantes da coletividade polônica e dos convidados que participaram do solene jantar por ocasião dos 118 anos da Sociedade Polônia! Fazia muito tempo que eu não via tanta elegância...
 
 
Naturalmente, numa ocasião tão especial não podiam faltar discursos. O presidente Paulo Francisco Ratkiewicz agradeceu a todos os sócios da Sociedade Polônia, especialmente à diretoria da entidade, pelo esforço conjunto despendido na restauração da sede. O embaixador da Polônia, Sr. Andrzej Braiter, em seu nome e em nome de sua esposa congratulou-se com a coletividade polônica pelos festejos dos 118 anos da diligente atividade da organização. O vice-prefeito de Porto Alegre, Sr. Sebastião Melo, além das palavras de felicitações, agradeceu à coletividade polonesa pela sua enriquecedora presença e seu trabalho em prol da cidade. Falou de Porto Alegre como de uma cidade multiétnica, multicultural. Entre os demais grupos étnicos, os imigrantes poloneses contribuíram para o desenvolvimento dessa acolhedora cidade. O ponto seguinte da solenidade foi o sonoro canto do “Parabéns” em português e do “Sto lat” em polonês! Os organizadores também não esqueceram do bolo e das velas.
A seguir, conjuntos folclóricos poloneses de Porto Alegre e de Nova Prata apresentaram várias danças regionais polonesas. Os jovens dançarinos mereceram estrepitosos aplausos pela sua bela apresentação.
 
 
O último ponto do programa, que se estendeu até altar horas, foi o baile festivo. Como religioso, eu me senti dispensado desse ponto e juntamente com alguns intelectuais polônicos voltei ao hotel. Eles tinham as suas razões para não participar da brincadeira comum, e eu precisava descansar algumas horas antes do encontro eucarístico com os compatriotas na igreja polonesa de Nossa Senhora do Monte Claro.
 
 
Para a santa missa, na maior parte celebrada em língua polonesa, veio um grupo dos nossos valorosos polônicos e alguns brasileiros nossos amigos. Estiveram presentes também alguns participantes da Feira do Livro: a vice-consulesa Dorota Ortynska; o Prof. Henryk Siewierski, da Universidade de Brasília; o presidente da Braspol, Sr. Rizio Wachowicz, juntamente com a vice-presidente Lourdes Kuchenny. Um coral constituído de várias pessoas preparou-se para essa Eucaristia há algum tempo, sob a direção de um religiosa que há pouco tempo veio da Polônia. O médico Dr. Vitoldo Królikowski abrilhantou os cânticos com o seu acompanhamento de órgão. Confesso que foi um banquete espiritual o que esse coral nos preparou, cantando as partes comuns e os cânticos em polonês, para que pudéssemos melhor participar do Mistério da Fé celebrado! Durante a homilia, pronunciada em língua portuguesa, procurei familiarizar os fiéis presentes com o significado da festa patronal da Basílica de São João de Latrão. Não pude deixar de mencionar a próxima comemoração da Independência da Polônia, da mesma forma que os 118 anos da existência e da rica atividade da Sociedade Polônia.
Confesso que como sacerdote da Sociedade de Cristo, e também exercendo a função de reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil, senti-me muito comovido quando após a missa, no encontro com os compatriotas, mais uma vez ouvi a expressão da mágoa porque a capelania se encontra órfã, visto que não conta com um capelão permanente. Um salesiano de origem polonesa que de vez em quando servia à comunidade polônica foi transferido pelos superiores religiosos a uma paróquia em Santa Catarina.
Após me despedir dos compatriotas diante da igreja polonesa, juntamente com o Dr. Vitoldo e as pessoas que nos acompanhavam dirigimo-nos ao restaurante polonês “Polska”, dirigido pela família Kowalczyk. Aos poucos, juntaram-se à nossa mesa mais alguns polônicos. Durante o almoço, tivemos a possibilidade de degustar os pratos poloneses muito bem preparados e elegantemente servidos, mas também de travar uma conversa que transcorreu num ambiente agradável. Naturalmente, o problema novamente abordado foi a falta de um padre permanente na capelania polonesa. O coroamento do nosso banquete foi uma charlote servida com sorvete e um forte cafezinho brasileiro. Veio o momento das despedidas, visto que se aproximava a hora da minha partida para Curitiba, e a do Professor Siewierski − para Brasília. Como sempre muito prestativo, o Dr. Vitoldo nos levou com o seu carro até o aeroporto.
 
 
Embarquei no avião com a garganta embargada. Conscientizei-me de que, após a minha partida para Curitiba, a comunidade polônica em Porto Alegre continuaria como um “rebanho sem pastor”. Tenho pena desses compatriotas! Por mais de setenta anos eles contaram com a assistência permanente dos seus sacerdotes. Após a morte do Pe. Leo Lisiewicz CM e, posteriormente, após o afastamento da Congregação dos Padres Vicentinos da pastoral polônica em Porto Alegre, a comunidade polônica de lá ficou abandonada. Muitos polônicos, em razão da falta de um padre polonês permanente, participam da vida de paróquias brasileiras. Se a comunidade polônica de Porto Alegre tivesse o seu padre permanente, acredito que muito de bem, em sentido religioso e também patriótico, poderia ser feito com eles e para eles! Fui informado de que ultimamente vieram várias famílias e também pessoas individuais da Polônia. Em razão do seu trabalho, essas famílias e pessoas residem em Porto Alegre. Durante o voo de volta, e também agora, estando já em Curitiba, volto em espírito aos compatriotas espiritualmente abandonados em Porto Alegre. Na minha oração peço a Deus que todos juntos, isto é, os responsáveis pela pastoral polonesa no Brasil e também a comunidade polônica na capital do Rio Grande do Sul, busquemos soluções comuns para o bem espiritual dos nossos compatriotas. Tenho a profunda esperança de que será possível atender às necessidades espirituais da comunidade polônica em Porto Alegre.
                                                                                     
Pe. Zdzislaw Malczewski SChr 

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